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Meu Drama

''Meu tálamo está vidrado em você!'' confessei. Fazer o que? Já conversei com ele muitas vezes, repeti dias e noites que VOCÊ NÃO VALE O MEU DRAMA, mas ainda não o convenci disso.
Um dia eu te expliquei que o Tálamo é uma área do cérebro intimamente ligado as emoções (mas ele queria mesmo era estar intimamente ligado a você). Então você me pediu para da próxima vez usar a palavra -Coração- Então eu achei lógico concordar, já que é sempre o coração que aperta nessas horas. Mas preciso te lembrar que as emoções não estão no coração, estão no tálamo. Que bobagem toda é essa? As emoções estão por todo o corpo...Estomago, peito, pernas, todo o meu organismo te quer, como se as minhas células fizessem festa por dentro toda vez que você resolve aparecer.
Então eu corrijo minha primeira frase, te dizendo ''Eu estou toda vidrada em você''. Logo depois que digo isso você sorri e se sente o dono do mundo, o cara mais atraente do universo. Estufa o peito e me abraça em silêncio, como quem não tem nada a dizer em troca, então a festa acaba e as minhas células sentem vontade de ter o poder de me tornar invisível. Se eu não tivesse te explicado o que era Tálamo, nada disso teria acontecido, ou eu poderia ter inventado que era meu primo gay, que se chamava Tálamo.
Por que um sentimento não correspondido me dá a sensação de que perdi a dignidade? Volto a me afundar no teu abraço enquanto escuto uma voz lá dentro de mim, me dizendo ''FUJA, ELE NÃO VALE O TEU DRAMA''.


Bruna Nunes
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A última carta que escreverei sobre você

“Me desculpe por isso, mas eu não posso mais continuar”. Foi tudo o que ele disse por meio de uma carta toda molhada, com alguns bons borrões de tinta, e pequenos rasgos por ter passado por debaixo da minha janela.
Nós nos conhecemos há alguns anos. Eu havia acabado de entrar no primeiro ano, e ele estava se preparando para ir à faculdade. Ele era um bom amigo. Me ligava para saber porque estava de cara feia na escola, me contava piadas para ver meu sorriso. Vivia na minha casa, só para jogar aquele vídeo-game chato que meu irmão tinha, e tinha um bom relacionamento com meus pais.
Meses se passaram, e eu tive que me acostumar com o fato, de não poder vê-lo todas as manhãs. Mas não foi tão difícil. Ele estava feliz na faculdade que havia escolhido. Tinha amigos novos, muitos trabalhos, mas realmente estava satisfeito com a vida que havia escolhido. Eu, apenas tentava me acostumar com as matérias chatas que o segundo ano me trazia, e me preparava para encarar a decisão difícil que teria que tomar no ano seguinte.
Nada havia mudado completamente. Continuávamos a nos ver com frequência, assistir os piores filmes do cinema, e a escolher CDS apenas pela capa, quando íamos a alguma loja no shopping. Nos finais de semana, saíamos com os mesmos amigos de sempre, cantávamos enquanto ele tocava seu antigo violão, até dar a hora de me levar para casa.
Se passou um ano, e outro, e outro, e eu me sentia a pessoa mais feliz e realizada do mundo. Toda vez que olhava seu sorriso, era como se meu mundo estivesse completo.
Certa noite, após exatos 10 dias em que eu não tinha nenhuma notícia dele, um papel caiu sobre minha janela. Eu tentei correr a tempo para ver quem era, mas tudo que encontrei foi o barulho da chuva caindo no chão.
Eu costumava amar dias chuvosos, mas aquele dia não havia me animado muito. Não sei se foi o fato de eu passar o tempo escutando minha lista de músicas tristes, ou a angústia que tomava meu coração.
O papel estava molhado, amassado, e até um pouco rasgado. Quando abri, eu sabia que conhecia aquela letra, e então sorri. Um sorriso que em pouco tempo começou a diminuir.
“Pequena,
Eu sei que deveria ter tido a coragem de te encarar frente a frente, mas eu não sabia como fazer isso. Não sei se são seus olhos que iriam me matar, ou sua mania de sempre sorrir, não importa o que aconteça. Não sei se aguentaria saber que estava prestes a nunca mais te ver, e ser recebido com o mais doce abraço que um dia já recebi. Mas de alguma forma eu precisava fazer isso, mesmo que fosse da mais covarde possível.
Primeiramente, peça desculpa ao seu irmão, por não poder voltar e terminar a partida do jogo que ele tanto queria. Fale a sua mãe, que ela tem o melhor pudim que eu já experimentei em toda a vida, e diga a seu pai, que eu não me importarei se ele me encontrar pelo campo onde sempre jogamos bola, e quiser cometer várias faltas sobre mim.
A você, eu não sei se tenho muito ou pouco a dizer. Nós já vivemos tanto, mas ao mesmo tempo tão pouco, perto do que sempre sonhei. Mas algo aconteceu de repente, e eu não posso mais enganar o tempo, ou você.
Ela
Eu
Um dia
Apenas aconteceu
Me desculpe por isso, mas eu não posso mais continuar”.
Aquela noite parecia perfeita para o momento. Eu olhei para meu celular que continha a nossa primeira foto juntos em seu plano de tela, e logo disquei seu número, mas algo em mim, fez com que eu não realizasse a ligação.
Eu poderia escolher odiá-lo. Com todas as minhas forças, e com todo o meu entendimento. Eu poderia escrever três discos inteiros, mostrando como ele partiu o meu coração. Mas eu também poderia escrever 10 álbuns sobre como ele havia sido bom pra mim. E eu sabia que poderia esquecê-lo, sem gastar toda a minha energia em algo ruim. E foi isso que decidi fazer, mas não podia deixar de antes, escrever minha última carta, das várias que eu nunca enviei.

Andressa Oliveira
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Pertença

Esmalte vermelho desgastado, um silêncio aconchegante, uma infinidade de palavras em minha mente...

Começa aqui a grande descoberta. Eu sou minha!

Agora que já sei, as coisas começam a fazer um grande sentido..

A dor é minha, a alegria também.. a estrada de curvas deve ser percorrida apenas por mim, e isso é tão bom!

Os medos, os erros, você, vocês, tudo, todos.. estão aqui do lado de dentro, vez ou outra se perdem, se vão, voltam, se esmagam, se pisoteiam, se pacificam, se reconstroem, e ainda assim, não deixam de ser meu território, as vezes de guerra, as vezes de paz.

O que quero dizer é que, ninguém além de mim, pode ser dono de todo esse exagero, de toda essa euforia, de todo o encanto e beleza que todas essas coisas podem ser.

Me deixe errar, me deixe estar, me deixe ser..

O meu coração guarda tanto, feito um armário antigo cheio de pó e coisas incrivelmente lindas e esquecidas, feito um liquidificador, feito uma sopa de letrinhas.

Feito encontro marcado, algumas vezes as coisas decidem se esbarrar, casualmente, ou de propósito, tenho lá minhas dúvidas.. 

E lá estou eu novamente, tão minha...

e tão sua?

Thaynara Romero
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Pra não dizer que flores não falam (2 de 5)

A única verdade verdadeira é a verdade vivida.” – (Nietzsche)


Ela era conhecida como a Rainha-da-Noite. Pelos cantos, corredores, umbrais, escadas, na rua. Ela era chamada de Rainha, mas não era tratada assim. Seu nome verdadeiro é Dália.

Quando ela nasceu sua mãe sorriu, a abraçou ali na maca, prometeu que sua vida seria diferente da dela. A criança recém nascida abriu os olhos e a fitou diretamente.

- Que olhos lindos. Tem uma cor doce. Tão pura...Você se chamará Dália, minha pequena, é uma flor linda.

A criança não parava de olhá-la. Nove meses dentro dela e agora ali, em plena contemplação, encontrava o rosto, a voz e o olhar do seu abrigo.

- Minha pequena Dália Vermelha.

Dália... Dália Vermelha é uma flor, o significado é OLHOS ABRASADORES, mas ela nunca soube disso. Ironicamente, Dália ficou conhecida por seu olhar penetrante e inesquecível, ficaria conhecida por outras coisas também, [de]mérito de sua mãe.

Sua mãe era uma apaixonada por botânica, especialmente flores. Nunca disse em que ponto sua vida não deu certo. Nunca falou sobre seu passado. Sobre seus pais. Sobre família. Quando Dália nasceu não pode voltar pra casa com a mãe. Uma amiga ficaria com ela. Seria chamada de tia, seria conhecida como a irmã da mãe. A mãe faria visitas constantes.

- Tia, por que eu não posso morar com minha mãe? – eram as perguntas mais repetidas.

- Oh, meu amor, sua mãe tem uma vida muito corrida e agitada. Trabalha muito. Depois que você nasceu ela me disse que trabalharia dobrado pra poder ter dinheiro o suficiente pra sair do emprego. Te colocar aqui é uma forma dela cuidar de você. Sua mãe te ama muito, Dália.

Dália emprestou a sua mãe uma esperança assim que repousou em seu colo, naquela maternidade. A mãe visitava a filha com muita freqüência, mas não conseguiu a demissão.

Aos 12 anos a “tia” não tinha mais condições de cuidar e manter a menina, mas tentou e insistiu mais um pouco. Aos 13 a “tia” precisou mudar de Estado e não pode levar a Flor. Dália iria morar com a mãe e em seus olhos haviam brasas de ansiedade, felicidade e desejo por conta disso.

Era uma casa grande. Haviam muitas pessoas, a maioria homens. Era uma casa bem cuidada. Havia um certo luxo. Muitos quartos.

- E é aqui que você mora, mãe?

- Sim... – um nervosismo na sua voz. Uma preocupação em como proteger sua filha.

- Parece um Hotel de rico.

- Filha, eu preciso te falar de algumas regras...

Ela a pegou pelo braço e a levou para o quarto. Dália estava deslumbrada com tudo aquilo.

- É sua pequena flor, Margarida? – perguntou com desdém uma das mulheres que descia as escadas.

- Não enche!

Dália não entendia nada, mas estava feliz. Chegaram ao quarto. A mãe passou o trinco.

- Filha, senta aqui. – Dália sentou – A mãe está muito feliz de ter minha mocinha por perto. Pra você ficar comigo terá que obedecer minhas regras e isso para o seu bem e para o meu bem.

- Ta bom, mãe. – aqueles olhos tão puros...

- Esse é o meu quarto e aqui está sua chave. Quando você estiver nessa casa terá de ficar o tempo todo aqui dentro, entendeu? Não poderá sair! Aqui terá tudo o que você precisar: banheiro, frigobar, televisão, escrivaninha para seus estudos. Seu colégio é integral e sou eu quem vai te levar e buscar na escola daqui pra frente. Você precisa estar aqui dentro, desse quarto, todo dia até as 20h. Entendeu???

- Mas porque mãe? Essa casa é gigante, eu quero conhecê-la.

- Não!! Essa casa não é minha, filha. O dono pode mandar você embora.

- Mas você não deixaria isso acontecer, né?

- Você vai precisar obedecer minhas regras.

- Ta bom.

Certas verdades não conseguem permanecer intocáveis por muito tempo, ainda mais quando você a rodeia de perto. Aos 14 Dália entendeu, um pouco, o que era aquilo. Aos 15 fugiu e descobriu que não tinha para onde ir e como se manter. Aos 16 os colegas da escola descobriram onde ela morava e foram cruéis e ela nunca mais voltou para escola. Aos 17 ela foi apresentada pela mãe, na casa grande, como a Rainha-da-Noite, outro nome de flor, mas que prefere a noite ao dia. Aquela foi uma noite onde poetizou suas lágrimas, dizendo ao homem que segurava sua mão que aquilo era orvalho que ela produzia. Aos 18 já não sentia nada, aprendeu a fingir tudo. Aos 19 era a mais procurada na casa. Aos 20 era a mais invejada da casa. Aos 21, olhando do seu quarto a vida das pessoas que transitavam lá embaixo, na rua, longe dali, se perguntou como era mesmo ter uma vida normal. Aos 22 encontrou seu caderno de anotações de quando tinha 17, e voltou a escrever. Aos 23 ela só pensava em como salvar a si e a mãe. Aos 24 descobriu que poucos conversavam com ela, valorizavam ela, se importavam com ela. Descobriu que o mundo é carrasco com gente como ela, da margem, do submundo. Sua mãe era uma puta de luxo e Dália também.

Aos 25 fugiu pela segunda vez. Tentaria reconstruir seu mundo de novo. Teria que aprender sozinha. E agora fazem 5 meses sem ver sua mãe.

“sonho pelos pés” “corpo é apenas casca” “a única verdade verdadeira é a verdade vivida, disse um filósofo, e eu tô lutando pra não ser uma farsa” “gostaria de vender minhas poesias, mas minha alma não vale mais do que meu corpo”

- Menina, eu ouvi você tossindo! Não me obrigue a forçar a porta. Abra essa merda, anda.

A chave girou, a maçaneta girou, a porta abriu e um tapa pode ser ouvido seguido de um soluço seco. Ele a prendeu com sua mão grande.

- Isso, agora a gente vai conversar, Rainha.


No rosto dela, contra a luz da lua, um vergão vermelho aparecia, mostrando pelo menos três dedos marcados.

(continua)
*Ellion Montino
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Leia o primeiro capítulo:
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Sapatos Molhados

Desesperador! Talvez a única palavra que descreva a minha sensação naquele momento de muita tensão e concentração. Estava na fila do banheiro, provavelmente a fila mais imensa que já vira antes. Com todo perdão pela expressão, mas o meu xixi já estava pingando e não havia mais nada para fazer a não ser esperar.

Toda aquela espera me angustiava. A única coisa que me trazia alguns sorrisos e me aliviava era saber que eu não era o último da fila. Sei que não é legal da minha parte desejar que os outros estejam piores do que eu, mas a única coisa que eu queria naquele momento era realmente que todos estivessem piores do que eu para que entrasse no banheiro logo e secasse todo esse tanque dentro de mim.

Todas as pessoas que caminhavam por ali se deparavam com a minha aula de contorcionismo. Eu me dobrava todo para manter a minha integridade e não fazer vocês sabem o que. E sabe, a fila andava, mas tão devagar que eu escutava minha bexiga dentro de mim zombando da minha cara.

Horas foram se passando, cada pessoa que entrava naquele lugarzinho sagrado, que iria sanar meus problemas, demorava muito lá dentro. Ou aquele lugar era maravilhoso ou tinha gente pior do que eu naquela fila. Eu já estava há três horas e meia em pé esperando e não aguentava mais. Nem os passos eu conseguia dar. Minha bexiga que antes ria de mim agora pedia misericórdia.

Faltava um número considerável de pessoas para se consultar diante do trono. O meu olhar revezava para frente e para trás. Para frente para poder ver quantas pessoas faltavam para minha vez e para trás para rir das outras pessoas.

Num momento, eu olhei lá para frente e vi uma senhora, uma cartomante, saindo do banheiro com uma plaquinha na mão. Meus queridos, acreditem, mas na plaquinha dizia: “Fechado para almoço.”

- Como assim fechado para almoço? Pô, ta pingando aqui!

O cara que estava na minha frente olhou para mim e disse:

- Você sabe que essa fila é para se consultar com a Dona Leopoldina, né?

Minha integridade já tinha ido embora naquele momento e eu fiz xixi no sapato dele.

Diego Luque
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Meu par

Meus pés estão cansados, junto com eles esta cansada também a minha confissão de que te esperei até agora.


Hoje foi o último dia que me permiti ficar parada aqui, sem buscar direção, sem buscar alguém.
Achei que assim como os meus, os seus pés encontrariam de novo o caminho da minha casa e suas mãos viessem bater na minha porta, me dizendo que andou com a vida bagunçada  e sem espaço pra mim, mas que agora que tudo ficou silencioso pôde sentir minha falta e redescobrir que me ama. Mas isso não aconteceu...E a vida me pareceu tão cruel quanto dizem por ai.
E olha que esse não é nem um caso de orgulho ferido, daqueles que fica esperando o outro tomar uma atitude para que então as coisas voltem a ser como eram. Eu bati na tua porta e desfiz meu coração em mil pedaços pra tentar te convencer, dei meia volta mil vezes enquanto tentava ir embora, mas você não quis que eu ficasse...Me pediu para ir embora com uma voz doce que pouco combinava com o teu olhar vazio.

Mas a lembrança que mais me incomoda é o som do teu ''Eu te amo'' no último café da manhã que tomamos juntos, ele soou verdadeiro e pesado. Como se as palavras já fossem um aviso. Minhas pernas entre as suas, ouvindo um rock'n roll, fingindo tocar uma guitarra imaginária, fazia o dia ficar mais bonito.
Você cantava a música de fundo e apoiava meus pés nos teus... Talvez seja por isso que meus pés lembram tanto você. Me dá um sinal de vida, diz se vive ou se esta morrendo aos poucos também, assim como eu. Me diz se ainda pensa em mim quando escuta nossas músicas, que eu prometo não te pedir pra voltar. 
Hoje prometi não esperar mais por você, estou saindo de casa para me buscar, preciso me ter de volta e nessa busca pode ser que eu encontre mais alguém, mas isso é só um detalhe, o mais importante agora é reaprender a andar com o par de pés que você deixou pra trás.

Bruna Nunes

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Melhores amigos ou algo menos


20 minutos, 50 minutos, 2 horas. Já eram quase 10 horas da manhã e eu ainda estava parada na frente daquele prédio, sozinha, esperando a bendita reunião acabar. “Por que não podem ser mais objetivos”, eu enviava uma mensagem de texto para minha melhor amiga, mas nem ela aguentava mais minhas lamentações. Foi então que ele apareceu. Um garoto todo sorridente e desajeitado, mas até que parecia ser simpático.

- O que você está fazendo sozinha aqui? – Ele perguntou tentando quebrar o gelo, já que minha expressão não era muito agradável.

- Estou esperando meu pai sair de uma reunião. – Respondi enquanto ainda olhada para o celular, esperando que meu pai ligasse avisando que já estava descendo.

- Ah, então eu vou ficar aqui com você! Meu pai também está lá. – Ótimo, pensei! Uma companhia era tudo o que eu precisava.

- Obrigada... – fiquei olhando enquanto esperava ele dizer seu nome.

- Paulo. E você é? – quando ia responder, avistei meu pai bem de longe.

- Olha ali meu pai. Adeus Paulo! – saí correndo ao encontro do carro. – A propósito, meu nome é Melina. – Ele deu um breve sorriso e gritou:

- Me adiciona no facebook! Eu vou ser um único com um sorriso colgate gigante, não tem como não reconhecer. – E então eu nunca mais vi seu rosto de novo, até semana passada.

Conversa vai, conversa vem, ele me contou tudo sobre sua vida e seus amigos, principalmente seu melhor amigo, até que por alguns problemas de relacionamento, nós nos afastamos.
Um certo dia, após passar no vestibular da minha tão sonhada faculdade, algumas pessoas me chamaram para ir a um restaurante legal da cidade. E ao entrar no local, eu me deparo com aquele melhor amigo dele.

- Aquele menino está com a gente? – eu sussurrei para a pessoa do lado – Ele me odeia! Inventa uma desculpa, estou indo embora.

- Ow, gordo! Por que você odeia a morena aqui? – eu congelei. Passar vergonha não era uma das minhas coisas favoritas de se fazer em um lugar novo.

- Como assim eu odeio ela? – ele veio correndo ao meu encontro – Ah, acho que eu te conheço! Mas fica tranqüila, eu não te odeio por causa daquilo não – ele deu uma gargalhada, e eu fingi um sorriso também.

Depois de um tempo entre o ódio e o amor, esse tão agradável rapaz se tornou um dos meus melhores amigos, me dando carona, se escondendo de mim quando me encontrava em algum outro lugar, e jurando sempre me fazer passar vergonha quando me encontrasse. 

Andressa Oliveira
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jurei que essa não seria pra você.


estou escrevendo pra você do lugar onde estivemos por horas ontem, horas essas em que o mundo parecia fácil, coisa simples de levar..
horas em que somos cercados apenas por paredes e sussurros.
- pq você me olha assim? você me pergunta.
olho assim pq aqui eu posso sentir seu coração batendo rápido, e isso significa que ele existe, ele está pronto pra sentir toda a sua confusão, toda a sua vontade, toda a sua falta de juízo tão bonita e clara.
não tenha medo meu amor, não combina muito com sua cara de mal, aquela de quando te olho pelo espelho, não combina muito com a bondade dos seus olhos e sua coragem ainda não descoberta nem mesmo por você.
se isso servir de algum consolo, eu sou um poço de medos e confusões, as vezes eu fico prestes a desmoronar, e acabo achando um jeito de não cair, quase sempre não cair é a parte mais difícil, mas algo sempre nos fixa exatamente onde devemos ficar.
dois corpos em sintonia não precisam de muitas palavras, só se encontram, se perdem, se juntam.. 
mas no meu caso, quando sou apenas um corpo, preciso resgatar as palavras que deixei escapar pelo quarto enquanto te via dormir..
e aqui estão, prontas, suas.
entendo o bombardeio que está na sua mente, entrar em guerra com nossos próprios sonhos não é uma das melhores coisas do mundo, gostaria de poder entrar na batalha por você e só te tirar do esconderijo quando já tivéssemos vencido.
mas aí é muito egoísmo meu, te poupar de sentir dúvida, te poupar de sentir tudo que nos abastece pra quando a gente esquece que ainda podemos sentir..
eu li muitas palavras suas jogadas ao vento, mas espero que as minhas possam ir ao seu encontro cheias de força, estão destinadas somente a você.
Espero que 1,65 de sol consigam aquecer tudo em você que ainda está com frio.
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Pra não dizer que flores não falam (1 de 5)


“A vida é curta demais para mais de um sonho.” (P. Leminski)

Dentro daqueles olhos castanhos claros havia uma faísca que teimava em não apagar. Dentro daquele olhar de ressaca habitava uma insistência em acreditar numa esperança débil e melindrosa.

Naquela casa de dois cômodos e um banheiro, ela habitava. As paredes eram rabiscadas, por ela, com giz de cor avermelhada. Frases soltas. Palavras que se desprendiam dela e paravam ali, na vertical, na massa corrida.  Assim ela dava voz às paredes que geralmente só tem ouvidos. Eram coisas do tipo:

“de olhos fechados eu vejo um mundo melhor.” “Sei do velho que não sabe que existe, mas eu sei e assim lhe poupei o trabalho de saber.” “hoje prendi a respiração por 5 minutos naquela banheira velha. Estou ficando boa. Talvez, um dia, não precisarei emergir.” “o cobrador me deu o troco errado, veio a mais. Preferi fingir que ele o fez de boa vontade e consegui dormir sem culpa.” “Fazem 5 meses que saí de casa e meu salário não paga por minhas esperanças.” “eu tinha um sonho e antes dele cair no papel minha mãe mandou eu o engavetar... engavetei minha mãe e agora meus sonhos ficam expostos pela casa.”

A relação com a mãe não era boa, e ela não lembra se algum dia chegou a ser. A última conversa das duas se resumiu em:

- Mãe, um dia você me verá nas livrarias. – sorria dizendo isso com o olhar perdido.

- Que papo é esse?

- Vou ser escritora.

- Não sei se foi o senso de humor ou a idiotice que você herdou do seu pai.

- É sério. Me ajuda a comprar um notebook? É melhor pra organizar meus textos. Aqueles escritos no caderno podem rasgar, molhar, enfim, e hoje é tudo digital, você sabe.

- Filha, eu não vou permitir que você perca seu tempo com algo estúpido. Primeiro que isso não dá dinheiro. Segundo que o meu dinheiro tem muito mais chance de render no meu bingo e na sena do que nessa sua besteira. E terceiro, se acostume com sua vidinha, meu amor. Acha mesmo que você tem algum conteúdo? Algo que as pessoas pagarão para ler? Dê graças a deus que ele caprichou um pouco no seu corpo e nessa sua cara, que pelo menos dá pro gasto. Ah, fiz uma arrumaçãozinha no seu quarto. Joguei umas coisas fora. Acho que seu caderno também foi junto. Veja pelo lado bom, o lixeiros terão o que ler antes de pegar cada lixo, isso se olharem o nosso. Hahaha...

Depois disso o surto. Iria tentar a liberdade, não sabia como, mas iria. Foi para o trabalho e numa mensagem de celular disse que não voltaria para casa naquele dia, que em breve daria notícias. Hoje somam-se cinco meses.

“tenho uma caixinha de música, é velha, mas toca. Tenho um coração com hematoma, cansado, mas bate.” “sem preço, sem luxo, sem lixo, sem lixa, sem pressa, com prece.” “sangue frio, coração quente.” “barriga vazia, delírio, um ronco e dele tiro uma risada fraca.” “do que é feito o chão em que pisam os pés de um sonhador?” “Qual o meu custo sem mão de obra?”

Rabiscos vermelhos. Desenhos vermelhos. Esmalte vermelho. Sua cor preferida. Na lata vazia de leite em pó, outra moeda cai e faz barulho. Ela sabe que quanto mais pesada à lata, mais leve alguma coisa fica, ela só não sabe o quê, mas sente...

É noite. Faz frio e não há luz. No chão, debruçada, ela trabalha no seu novo caderno. A mão treme, um misto de fome, de frio, de força migalhada.

Alguém bate com força na porta. Ela pára a escrita e fica imóvel, em silêncio. Prende a respiração, do jeito como treina todo dia na banheira, para que ninguém note sua presença. Nota que se esqueceu de apagar a vela. Assopra a chama que ilumina seu caderno. Inala a fumaça do pavio. Tosse.

- Abra a merda dessa porta. Eu ouvi você!!!

É voz de homem, do homem que a procura já tem quatro dias seguidos. Outra tosse mais constante pode ser ouvida do lado de fora.

“sinto que até meu silêncio me denuncia.” “pra onde se vai quando se está perdida?”

- ABRA A MERDA DESSA PORTA..!

(continua...)
*Ellion Montino
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Meu Querido Diário


Meu querido diário, hoje vai ser um pouco diferente.

Cansei de dedicar todos os meus dias aqui nessas folhas de papel. Tudo que acontece comigo eu corro pra cá para te contar. Você conhece todos os meus segredos e eu não tenho medo de esconder nenhum deles. Mas sabe o que eu não entendo, diário? Você não se importa comigo! Estou muito chateada. Todos os meus segredos estão diante de você e você não me ajuda. O que adianta me abrir pra alguém que não está disposto a me dar conselhos?

Chega, diário! Você é um idiota. Como fui tola em acreditar que todo meu destino estaria nas mãos de um simples caderninho que nem mãos tem. Fui traída por você. Abandonada. E o pior é que agora você sabe tudo sobre mim.

Eu detalhava pra você cada hora do meu dia. A folha em branco rapidamente era preenchida por relatos de tudo que aconteceu e que acontecia comigo. E o meu medo é que, agora que você sabe de tudo, conte para alguém. Sei lá, para outros diários.

Eu não sei qual é a de vocês diários, sabem de tudo e não contam nada uns para os outros? Aham! Vocês devem é rir das nossas histórias juntos! Mas enfim... eu confiei em você, diário. E o que eu recebo em troca? Silêncio?

Eu peço desculpa, mas o nosso vínculo termina aqui. Esse vínculo que começou entre minha alegria, minha caneta e suas folhas termina diante da minha decepção, das suas folhas e de um fósforo aceso. Se meus sentimentos sumiram nas suas linhas eu quero que suas folhas sumam por causa do meu ódio.

Estou ardendo em chamas por tudo que tem acontecido e quero que você suma em chamas e nas cinzas desapareça.

É, meu querido diário, você não é tão querido assim.

Diego Luque
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Mel Castanho

Se for pra te amar, então quero que todo mundo saiba, que todo mundo veja nos meus olhos... Os meus olhos me entregam e eu não sou boa em negar, nem dizer que somos só amigos, nem dizer que estão loucos por associarem meu nome ao teu. 
Quero poder abrir um sorriso e dizer 'Estamos'. Estamos juntos, estamos apaixonados, estamos cheios de borboletas pela barriga e estamos satisfeitos. Agora o único medo é do tempo ser rápido demais e dessa sensação passar, ou da hora que aparecer o primeiro ciume, enchendo os olhos de nuvens. É difícil aproveitar o hoje sem pensar se terei você amanha, porque quero poder me acostumar a ser feliz assim. 

Sobre os ''Nossos olhos''  tenho duas confissões: Gosto quando gasta seu tempo nos meus olhos cor de mel, minutos e minutos. E..


Bruna Nunes
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Você e a chuva



26 de Junho de 2010. Eu me lembro do dia exato em que te vi passar por aquele café.
Estava chovendo, mas você não se importava em deixar as gostas caírem pelo seu escuro cabelo. Seu all star vermelho estava ensopado, assim como sua camisa xadrez, aquela mais surrada, que estava a ponto de fazer você ficar três dias na cama por causa de um resfriado.
Eu lia meu livro favorito pela quarta vez. Aquele tempo estava propício para o exato capítulo de “Orgulho e Preconceito”. Eu nem lembrei que meu café estava perdendo toda a sua temperatura, mas algo me chamou atenção enquanto eu observava a janela. Eu queria analisar se já poderia fugir para a minha casa, mas ele estava lá, parado, se escondendo na pequena cobertura que aquele estabelecimento oferecia, e por algum motivo, meus olhos não conseguiam se concentrar em outra coisa, e surpreendentemente os dele também não.
“Eu nunca entendi qual o sentido que as pessoas encontram em ler um livro que já se transformou em filme”, uma voz suave e tranquila ecoava do outro lado da mesa em que eu me encontrava.
“Eu nunca entendi o sentido de assistir um filme que não retrata a emoção que o livro pode proporcionar”, eu levantei meus olhos e pude observar seu belo rosto, encharcado, com gotas pingando de sua roupa, e com um pequeno e sincero sorriso no rosto.
E então eu pude compreender que tudo o que eu precisava era da chuva, e de você. 

Andressa Oliveira
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Fique...

O tempo parou. Nada de relógio, vozes, passos ou música.
Não alcancei, nem enxerguei nada além de você ali, mas só ali. 


Ali não é para sempre, ali não dói, ali posso ser sua, mesmo sem ser...

Nos vestimos de nossos melhores personagens e acabamos percebendo que encenar seria uma grande bobagem. Éramos melhores sendo nós, no nosso momento.


O nosso momento começou inconsciente e em segredo, começou ser nosso quando seu abraço me pareceu território conhecido. De tão bom pareceu um daqueles lugares que a gente sente saudade sem nunca ter ido.


Segurei sua mão e fui, descobri seus sons favoritos e os cantei para você. Me senti segura no desconhecido. Minhas palavras lentas começaram a ganhar sentido depois dos seus cuidados...


Depois dos nossos segredos, olhares, sinais e respiração... me dei conta de que o tempo não tinha parado, e o sol estava no seu rosto nos acordando sem pedir permissão. Me despedi meio sem jeito, fazendo daquilo minha próxima poesia... Até que você me disse que a despedida não seria assim, rápida e sem jeito.


E então, seis dias depois, lá estava você, lá estávamos nós, cheios de motivos para não estarmos.  


Nos abraçando com 3 braços, eu quis te confessar que momentos passam rápido, mas ficam, se é que me entende...

Os momentos são como um perfume bom passando no ar, a gente sente, sorri, segue o rastro e deixa evaporar.


Então fique essa noite, fique um pouco mais se quiser...


Thaynara Romero
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Ralos e Excessos



A caixa de mensagem do celular estava entupida. A estação de trem estava entupida. O vagão estava entupido. As padarias também seguiam cheias. Os mercados. As filas. As calçadas. As rodovias. A paz. Os pensamentos. O coração. Minha privada também estava entupida. E eu pensava: ‘merda!’ Literalmente falando e também no sentido figurado. Tanto faz, estava tudo truncado.

O que aconteceu com o mundo? O que aconteceu hoje? E para qualquer direção que olhava mais pessoas surgiam, vindas não sei da onde, para enchermos os vagões, ônibus, trânsitos, plataformas, lugares. Como se coubesse mais um de nós nos pequenos espaços em que nos entocam, e o pior é que cabe, de algum jeito, de alguma forma, cabemos.

E assim vamos desfigurados, distorcidos, contorcidos, espremidos, atolados, emputecidos, estressados, para o nosso destino. E no fim do dia fazemos a mesma coisa, só que voltando. É isso, concluo, estamos aqui só para ocupar espaço, e nossas inúmeras atividades servem para não pensarmos nisso. E nossa correria de todo dia serve para não observarmos os caminhos. E os fones que usamos servem para não notarmos as pessoas. E os livros que lemos servem para nos afogarmos em outras vidas e realidades. E as bebidas que tomamos servem para nos anestesiarmos e poder dizer só por hoje. E o futuro serve para nos inspirar a continuar  buscando alguma coisa sem enlouquecer. E as ilusões servem para nos dizer que tudo no final será como planejamos ou que há sentido em tudo isso, e de que por isso não precisamos nos preocupar tanto ou questionar a realidade que vivemos. E os celulares e a internet servem para nos sentirmos conectados com pessoas que não vemos, não tocamos ou convivemos, porque estamos ocupados demais fazendo de nossa vida alguma coisa, que na maioria das vezes, duvidamos do que exatamente seja. E as fotos que publicamos na rede servem para mostrarmos ao mundo que estamos bem e nossa expectativa primária é que todos acreditem e vejam como nossa vida deu certo. E as férias que tiramos servem para termos a certeza de que nossa rotina é mesmo uma loucura e nos mata todo dia um pouco mais, mas tudo bem, pois existem 30 dias para não pensar nisso e viver de acordo como acho que a vida deveria ser: leve, explorada, tranqüila, equilibrada, gostosa, curtida, compartilhada, registrada, viajada, sem precisar de login e senha.

Sinto que todos sabem e percebem que as coisas são assim. E todos vivem dentro desse globo da morte interna. Quem nos deixou tão apáticos? Quem me deixou assim? E quando penso em possibilidades de reverter alguma coisa, parece não haver uma saída palpável e efetiva. É como se todos estivessem esperando o fim nos arrematar, e nossos olhos brilham com essa expectativa, pois a impressão que dá é que não falta mais nada, apenas isso, sermos sugados da existência por que isso aqui ficou indigesto e insuportável. Então nos olhamos com ternura, nos lembrando que somos humanos e há em nós essa humanidade esquecida, e nos damos colo, e nos inspiramos, e dizemos tudo bem, tudo ficará bem, haverá um lugar melhor do que esse. Então dormirmos tranqüilo, ganhando mais uns dias de vida antes da próxima crise existencial.

Chego em casa, depois da loucura, e a caixa de correio também está cheia. E minha pia está cheia, e meu lixo está cheio, a máquina de lavar está cheia e eu também estou de saco cheio. Respiro fundo. O mundo está entupido e parece não ter por onde evacuar. Pego uma toalha seca e vou para o banho. A água é boa, cai objetiva no meu corpo. Coloco a cabeça embaixo do chuveiro e procuro esquecer tudo e me concentrar apenas no barulho de cada pingo que bebe minha pele. As gotas que caem no rosto se misturam com lagrimas e já não tenho certeza se estou chorando mesmo. O ralo suga todo excesso. Presto atenção no barulho que ele faz levando aquela água. Tem dias que preciso sentir e ver parte de mim indo embora por algum lugar.

Desligo o chuveiro. Me seco. Vejo se há algo de novo na geladeira, e é obvio que não há, não coloquei nada de novo ali dentro. Pego uma bebida qualquer. O notebook já está ligado e pronto, ele vai trabalhar um pouco. É quando começa a chover. Abro a janela para assistir o espetáculo que as nuvens fazem. A água do céu desce forte e implacável. Eu sinto pela chuva. Sinto muito por ela. Nossas ruas então lotadas de asfalto, e agora, até as gotas do céu, irão se entupir e provar do inferno que fizemos aqui embaixo.

Ellion Montino
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Era Uma Primeira Vez

Ontem aconteceu algo muito especial! Passei por dezenas de situações que tive que aguentar firme somente para que esse dia acontecesse. Você provavelmente deve estar pensando que tive minha formatura ou fiz alguma prova que mudaria drasticamente meu futuro. Mas é claro que não! Eu só tenho 15 anos.

Papai e mamãe me deixaram ir a um show. É! Desses de música que sobe algumas pessoas lá no palco. Alguém toca e alguém canta e a gente, lá embaixo, fica gritando loucamente. E eu vou narrar pra vocês como aconteceu.

Primeiro que eu tive que lavar muita louça e jogar muito lixo fora pra que mamãe me deixasse ir. Descobri que lavar a louça exige um cuidado, porque quebrei alguns copos e pratos. Foram tantos quebrados que compensaria somente tê-los quebrado e não lavado, mas tudo bem. Foi assim até o dia que papai disse que eu merecia ir ao show. Até agora fico pensando se merecia ir pelo que fiz ou se já merecia antes de ter feito tudo isso. Espero não saber a resposta disso.

E o dia chegou! Ingresso em mãos e o coração nem sabia mais onde estava. Estava saindo de casa e mamãe veio chorando pra cima de mim. Ela me deu um abraço e falou que me amava muito e que era pra eu me cuidar e essas coisas que mãe fala que a gente obrigatoriamente precisa acatar caso contrário... Já sabemos o que pode acontecer.

Papai estava me levando para o local do show e me disse muitas coisas até chegar. Disse que estava crescendo, que me interessaria por algumas meninas, que algumas meninas se interessariam por mim, que no show algumas pessoas iam dar uma passada de mão em alguns lugares estranhos, disse para eu me cuidar e muitas outras coisas. Ele falou o mesmo que mamãe, só que é claro, eu fiquei muito constrangido com esses papos dele.

Chegamos ao local e eu estava com medo de descer do carro. Mas logo encontrei os meus amigos que combinei de ir e me acalmei. Papai me deu tchau, nós entramos no espaço e ele foi embora. Estávamos descendo até onde estava montada toda a estrutura para o show. Havia muitas pessoas naquele lugar. Eu e meus amigos caminhando e conversando alegre, mas meus olhos fitavam tudo ao redor. Luzes, barracas, brinquedos e pessoas, muitas pessoas fazendo coisas diversas.

Chegamos pertinho do palco. Ficamos esperando algum tempo para que tudo começasse. Comecei a me irritar, pois já eram onze e meia da noite e o show, que estava marcado para as onze, não havia começado. Mas depois de muito, anunciaram o início.

Minha banda preferida estava diante dos meus olhos e muito próxima de mim. Eles começaram cantando uma das músicas que eu gosto muito. Chorei demais nessa música. Não consigo explicar o que acontecia no momento. Era tudo tão lindo! E acabava uma música e eles conversavam com a gente e eu super respondia cada pergunta. Daí começava outra música. Até o momento que começou a música que mais curto da face da terra onde entrei em êxtase!

Nesse momento, uma menina virou pra mim e falou:

- Gatinho!

Eu disse:

Shiiiu! Não está vendo que essa é a minha música?

E continuamos cantando alegremente. Ao terminar a música, a menina me chamou novamente:

- Gatinho!

- O que você quer, mocinha?

- Você não está afim de alguma coisa?

- Sim, eu queria muito assistir ao show, mas você não deixa.

- Você não quer ficar comigo?

- Tudo bem, eu fico.

Eu sai do meu lugar e fui até a menina, que era muito bonita, mas que estava me aborrecendo naquele momento. Cheguei ao lado, cruzei os braços e voltei pro meu show. Continuei cantando e me divertindo. A menina me olhava como se eu tivesse que fazer alguma coisa. Depois de alguns minutos ela veio pra cima de mim e tentou me beijar. E rapidamente eu gritei:

- Você é louca? Tem problema? Eu estou tentando ouvir minhas músicas e você está me incomodando. Você pediu para eu ficar com você e aqui estou. Deixei meus amigos lá trás pra ficar ao seu lado, e o que mais você quer?

Ela me pediu silêncio e partiu em direção à minha boca e me beijou. Que coisa maravilhosa! Eu senti o coração dela no meu peito. Foi o beijo mais perfeito da minha vida, ou primeiro beijo, como queiram chamar. Não sei como nem porque, mas acho que estava me apaixonando naquele momento. Fiquei com ela, revezando entre beijos e abraços, até o final do show. Tudo tão lindo, tudo tão especial, tudo tão tudo.

Mas como a vida é uma caixinha de surpresas, eu ouço uma voz absolutamente do nada:

- Filho! Acorda! Você precisa levar o lixo pra fora! Você já tem o ingresso do show em mãos, mas ainda precisa ajudar em casa.

É meu amigo, ainda estava na luta para ir ao show! Mas se for pra acontecer exatamente como no meu sonho, pode ter certeza que eu farei de tudo para não quebrar copos e pratos na hora de lavar a louça.

Diego Luque