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Parte

Já te perguntaram a cor dos seus olhos? Encanto. Há quem use palavras para convencer que se ama. Ou que ama alguém. No entanto, quando convêm, cala. O velho diálogo de Adão e Eva proposto - ora, posto - por Machado de Assis, em Memórias, é verossímil. As palavras voam além dos pensamentos.

Muitas conversas começam com um olhar. Os olhos são a metonímia do corpo. Se o corpo fala, milhões de neurônios, hormônios e homônimos se agitam, movimentam, aquecem a pele. Os olhos vão além, são a parte externa no cérebro, da mente, da alma, do ser. Mas os olhos são parte do corpo. Parte do todo.

A cena não surpreende. Sempre conversa com estranhos. E, agora, vem a conjunção "mas"... E é... Mas as palavras pareceram enfim encontrar terreno fértil. Enquanto falava, encantava - como a sereia Iara de nossa mitologia brasileira. Nunca fizera tanto sentido ter tanta habilidade com a retórica.

Quem passa, vê um casal. Ao olhar de longe parecem falar como apaixonados. Mas não há paixão. São interesses comuns. (Você pode discordar, o único narrador onisciente é Deus, escritor é pretensioso). Falam sobre o Brasil, a Copa da FIFA, compra de Dólares e viagens para Miami. Mas usam um tom grave, parecem estar em Ágora, discursando para vencer. As palavras encantam. Os olhos, no entanto, pouco se afetam pela mecânica da fala. Parecem tentar dizer outra coisa, revelam um desespero subterrâneo. O todo, o corpo fala. O olho, a parte se cala. Parece sempre dizer muito mais a metonímia do corpo.

Luiz Henrique, fim de maio de 2014.

Luiz Henrique F. Cunha é professor e escritor
tem um blog http://luizhenrich.wordpress.com
Seu livro novo tem um site: http://historiade50metros.com


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O Caminho do Rio! Parte III



- Voltamos pra São Paulo hoje, ta amor?
- ok Eduardo! - falei com tom de quem faz birra.
- Não faz essa cara...
Fiquei em silêncio.
- Teu celular esta vibrando desde cedo amor.
Me virei até a beirada da cama e peguei o celular que estava embaixo da mesma. Era minha amiga Mariana, retornei pra ela.
- Ta no rio ainda?
- To.
- Vou fazer uma festa esse fim de semana, você está convocada a ir.
- Mas... vou voltar pra São Paulo hoje.
- Não, você não vai Adriana.
- Ok, eu vou na tua festa.
e desliguei.
- O que Mariana queria amor? - Perguntou Eduardo enquanto arrumava as malas.
- Vou ficar no Rio mais uma semana.
- Hum.
- Ok?
- Ta.
Deixei Eduardo no aeroporto, e peguei um táxi para a casa de Mariana, parei em um bar em uma esquina próxima e comprei duas carteiras de Marlboro, precisava aliviar uma tensão estranha que estava sentindo, como se estivesse de saco cheio da vida sem motivos aparentes.
- Ainda bem que você veio! - disse Mariana correndo para me abraçar.

x-x-x-x

- Toma só mais essa Adriana, ta na roleta vai ter que beber!
Era o que eu conseguia ouvir das pessoas em volta enquanto mais um gole de vodca eu bebia, minha mente girava e eu estava com uma estranha sensação de felicidade. Me levantei para ir ao banheiro, todos ao redor pareciam que estava rodopiando e eu podia os ver em câmera lenta.
O moço ruivo do outro dia estava ali parado na porta do banheiro masculino me observando, não sei como ele foi parar naquela festa e nem tinha certeza se era realmente ele.

- Quer ajuda? - disse ele me segurando.
- Me solta!
- Não!
- Vou vomitar em ti então seu idiota.
- Vomita.

Dei um empurrão nele e entrei no banheiro masculino, procurei a pia mais próxima e comecei a vomitar, enquanto ele passava as mãos em minha costas. Não sei quanto tempo aquele momento durou, mas quando me dei conta estávamos do lado de fora da casa, no jardim e eu estava deitada sobre as pernas dele aquecida por um casaco. Levantei a cabeça e estava com uma enxaqueca horrível.

- Toma esse sprite! - me ofereceu.
- Obrigada! O que aconteceu?
- Quer dizer que tu não lembra que bebeu pra caramba e não aguentou?
- Minha nossa... Cadê a Mariana?
- Ta dormindo.
- A festa já acabou?
- Sim, faz umas duas horas. Mariana mandou todo mundo embora, para você poder dormir bem.
- Do lado de fora?
- Eu insisti.
- Então tá. - falei envergonhada, abaixando a cabeça e colocando o refrigerante na boca.
- Não lembra de mim né?
- De verdade?
- Aham!
- Lembro! Só não lembro como você veio parar aqui....
- Faço faculdade com a Mariana. Não esperava te reencontrar.
- Nem eu.
Ficamos em um silencio constrangedor, quando ele começou a passar as mãos por dentro de meus cabelos, meu corpo todinho começou a se arrepiar, uma tensão se encontrava entre nós, olhei nos olhos dele e levantei minhas mãos para pegar em seu rosto e fiquei a acariciar enquanto nosso rosto se aproximava cada vez mais, até que ele me beijou. Era um beijo suave e lento, a boca dele na minha era como está beijando algo puro e angelical, conseguia sentir o prazer e o desejo naquele beijo.


continua...

Karen Lancerotti
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Me dê amor


“Me dê amor como ele, porque ultimamente eu tenho acordado sozinha”. 
Escolhas. Tudo nessa vida gira em torno de escolhas. Quando criança, você não se torna amigo de alguém forçado, você escolhe ter essa pessoa do seu lado. Assim como eu escolhi você, e você a mim.
Não foi o destino, nem o universo, nem o impossível. Foi uma escolha. A escolha de responder a sua pergunta naquele bar, a escolha de pegar o seu telefone, a escolha de te mandar uma mensagem durante a madrugada, a escolha de me arriscar. Nós poderíamos ter escolhido não dar certo por causa dos nossos gostos diferentes, mas escolhemos funcionar, pelo que tínhamos de igual. Aquele seriado, aquele filme, aquela banda, aquela música.
O tempo passa, e nós escolhemos como vamos seguir. Entre ser um casal comum, e optar pelo diferente, nós escolhemos nos surpreender. Nada de brigas por horário, ou mensagens não visualizadas. Nada de falta de amigos, ou de momentos de risadas. Nós escolhemos ser um, mas ainda dois, para que ninguém perca a sua essência, para que ninguém se esqueça.
Como nenhuma história de amor é perfeita, as nossas escolhas também não foram. Em algum momento, as escolhas que antes eram uma, se tornaram duas, e ao mesmo tempo mais distantes. Você escolheu sair e não voltar, e eu escolhi ficar e esperar. Eu vejo os casais na rua, e eu fiz a minha escolha que veio como um pedido. Cuide bem da sua última escolha, porque nela está o meu coração.

Andressa Oliveira
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impossibilidades

Hoje eu tive a impressão de te ver no trem.
Ela me lembrava muito você. 
Tirando aquele corte de cabelo, que você jamais usaria. 
Tirando aquela cor de batom, que provavelmente te faria rir e dizer ‘que ridículo’. 
Tirando aquele relógio cafona e colocado no braço errado. 
Tirando aquele estilo de roupa que não é o seu. 
Tirando os óculos, que você usa, mas jamais aquela armação. 
Tirando aquele sorriso aberto, que ela deu e que se fosse você, jamais seria assim.

Ando com essa mania de te ver por aí 
Inclusive,
nas impossibilidades.

Ellion Montino
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De Amor



Tem um amor que incomoda
Tem um amor que acomoda

Um quer paz, 
o outro, guerra
Um seduz,
o outro, nega.

Um quer só o bem
O outro também, mas machuca
Enquanto um não sossega e se contradiz
O outro se aquieta e repete o mesmo
Quando se diz.

O que acomoda, se garante
O que incomoda, ciúme tem
Segue a moda, se acomoda
Se inova, incomodam (desde si)

Acomoda não é amor, é conveniência.
Incomoda é finito em nós,
Infinito e terno

Eterno.
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O Caminho do Rio! Parte II.

“Enfim no Rio...” – sorri ao sair do avião, respirar o ar daquele lugar me fazia encher os pulmões de paz.
Eduardo já saiu do aeroporto acendendo um cigarro e acabando com meu pequeno momento de respiração profunda de felicidade. Comecei a tossir, e ele me olhou com olhar de “essa indireta não funciona mais comigo”.
“Já chegou a hora de mudar suas táticas viu mocinha?” ele falava enquanto olhava para os lados procurando um taxi.
“Nos leve para o melhor hotel daqui”, disse ele para o taxista, sorrindo e em seguida me beijando.
“Nós vamos à praia?” – perguntei.
“Olha... Não é porque estamos no Rio que vamos à praia.”
Abaixei a cabeça.
“Claro que vamos bobona” – e me beijou.
Quando chegamos ao hotel, Eduardo deitou na cama e dormiu. Não sei de onde aquele homem tirava tanto sono, mas aproveitei que ele tinha ido descansar e fui procurar algo para comer no restaurante do hotel. Todo o funcionário daquele lugar era educado, mas se mostravam esnobes, puxa-sacos e tinham  um ar indiferente de superioridade, o que é absolutamente ridículo, pessoas que se acham além do que realmente são apenas demonstram que são apenas pobres almas catando o lixo alheio de pessoas que me desculpem o palavreado,  cagam igual a todo mundo.
Almocei e fui passear pelas ruas ao redor do hotel e resolvi ir à praia, quando estava saindo de lá coloquei os óculos escuros, observei ao redor e pensei “Nossa que saudade de tudo isso”. Foi quando, um rapazinho que deveria ter dez anos no mínimo, passou por mim correndo e puxando minha bolsa, ninguém ao redor se preocupou em me ajudar, apenas um homem que saiu correndo atrás do menino. Fui atrás deles, mas perdi os dois de vista, resolvi voltar para o hotel quando cheguei o mesmo homem estava na recepção.
“Aqui está sua bolsa!” disse ele me entregando, olhei para aquele homem, ele era um pouco mais alto que eu, loiro, tinha uma barba de cor avermelhada e falava com um ar de gentileza, era encantador.
“Muito obrigada!” peguei a bolsa, abrir a carteira e ofereci dinheiro para ele.
“Não moça, ajudei por prazer, não se preocupe e cuidado da próxima vez, não se distraía de novo.”
Eu sorrir, ele beijou minhas mãos e sumiu de minha vista. Esqueci-me daquele homem, e subi para o quarto.
“Onde você estava que não me atendia?” falou Eduardo preocupado.
“Longa história, mas não se preocupe eu estou bem amor. Fui roubada e...”
“Como assim? Você foi roubada? Te machucaram?” falou enquanto me tocava para saber se eu estava com algum arranhão.
“Não se preocupe, apareceu um homem lá e correu atrás do garotinho e conseguiu pegar minha bolsa de volta.”
“Ainda bem que nada te ocorreu meu amor. Não saia mais daqui sem me avisar viu? É perigoso andar sozinha.” E beijou minha testa.
“Vou tomar banho, quer ir comigo?” ele perguntou, enquanto me oferecia uma toalha.
Sorrir e entrei no banheiro com ele.

 x-x-x


Continua.

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Nenhum lugar



Já é tarde e eu continuo a me questionar
Por quanto tempo mais eu vou ter que esperar?
Já faz um tempo que eu não sinto nada por ninguém
Ninguém me encontra ou sou eu que não encontro ninguém?

O medo da história se repetir existe,
Mas tenho que deixar partir
O meu coração está pronto dessa vez
Será que vou ter a chance de um “era uma vez”?

O tempo passa e cada vez está mais rápido
Será que em algum momento eu fiz algo errado?
Mas eu continuo em todo lugar a te procurar
E quem é esse você que não encontro em nenhum lugar?

Futuro não quebre o meu coração antes que eu realmente o dê
Não me responda que não se eu nem perguntar
Não crie esperanças se você não quiser, e não me deixe ir embora se algo acontecer

Andressa Oliveira
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sobre as mortes pelo caminho

Pode acontecer a qualquer hora
Numa daquelas tardes de sol
Em que tudo parece seguro
Estável
Firme

Pode acontecer a qualquer momento
No meio de uma tempestade
Abrindo um guarda-chuva
Pedindo um x-burguer
Escolhendo seu tipo favorito de bolacha no mercado
Amarrando o cadarço para aquele compromisso de daqui a pouco

Não há tempo determinado, entende?
Isso torna tudo mais assustador e magnífico
Ao mesmo tempo
E é isso
O fato de não saber o próximo passo que a vida dará em sua direção
Que deixa você vulnerável aos encontros com verdades das quais você adora negar

Pode ser numa quinta de tarde
Numa conversa a dois
Numa troca de e-mail
Num olhar servido de quietude
Numa tensão que te consome sem dizer de onde veio

Acontece comigo
Em momentos esporádicos da minha existência
Geralmente quando tudo está bem
Aparentemente bem
Então vem aquele golpe certeiro
No meio da cara
No meio das juntas
E o chão parece nunca ter sido tão próximo

Algo te engole e te consome
Como um buraco que se abre debaixo de você
Não há buraco
Mas algo,
Subjetivamente literal,
Te puxa pra esse algo sem nome e sem espaço físico

Verdades e palavras
Feito bisturi
Rasgando você
Abrindo você
Sem anestesia
Sem chance de fuga
Sem meios de desconversar ou dizer “isso é um equívoco”

E aquele mundo todo construído
E habilmente arquitetado e monitorado fica exposto
Visível
E rui
Desmorona
E não há nada que possa ser feito

Imagine suas vulnerabilidades
As coisas que você sabe e pensa que ninguém percebe
As coisas que você nega e esconde pra se inserir
Pra se sentir aceito
E então, num dia qualquer
Numa hora não planejada
Isso chega até você, por outro
Ou por si
Como um segredo revelado
Como um soco na boca do estômago retirando-lhe o ar e o controle

Esses momentos contrariam todas as fotos felizes no face
Todas as frases de efeito de pensadores
Todas imagens fofinhas e bonitinhas colocadas no seu mural
Todo fingimento de que tudo corre bem o tempo inteiro na time-line

O soco vem certeiro na vida real
Fora das redes
Fora da construção viral
Bate de frente com o travesseiro onde você repousa a cabeça
E não consegue dormir durante os primeiros 20 minutos
Pensando que algo poderia ser diferente
Que sua vida poderia ser outra se...
Se...
Mas nada acontece
Até a vida resolver mexer no seu jogo
E inverter sua rota
E te apunhalar pelo lado menos esperado

Você não sangra de fato
Porém sua alma...

O olhar se perde no horizonte
Busca o horizonte em busca de algo
Geralmente não encontra o algo
É por isso que fica perdido no longe e no vácuo
Porque o algo que se busca, não se encontra
Porque não são os olhos que se perderam
Mas algo dentro de si

Quem te salvará desses acontecimentos
Que podem te pegar a qualquer hora?
Ninguém.
Ninguém deve te salvar nessas horas.
Você deve ser engolido
Mastigado
Triturado
Digerido
Esse é o movimento que te fará continuar
E não a fuga.

Ser engolido
Nesses momentos
É a melhor salvação que te ocorre
Nada de desvios
Distrações
Os olhos devem cravar no espelho que te ataca
E permitir, nessa vez, a perdição e o mergulhar em si

Você irá morrer
Inevitavelmente
E perceberá que a morte pode não ser alguém com foice
Mas a coisa mais linda com a qual você cruzou

Quando a morte cruzar seu caminho
Num dia qualquer
Numa hora não marcada
Pra salvar você de você mesmo outra vez
Peça-a pra fazer sem anestesia
Pra que você esteja lúcido
Consciente
De cada momento que mostrará a você
Tudo aquilo que você teima não reconhecer

Depois que o ar voltar para seus pulmões
E você ressurgir do seu fim
Olhar pela janela
Pro chão
Pro céu
Pros outros
Não será a mesma coisa

Aconteceu comigo ontem
Já é a vigésima terceira morte que tive nesse ano
Parece que eu não aprendo
Parece que a morte é insistente em me ensinar
Ou eu que sou teimoso em não aprender
De toda forma, o gosto da foice nem sempre é de fel.

Enquanto o sabor da morte desce rasgando pela garganta
Brindo o meu renascimento que ainda não tem hora pra acontecer.

Ellion Montino
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O Que Os Olhos Não Vêem o Coração Não Sente


Eu lembro daquele dia que eu acordei sem coração. Tudo normal, mas meu coração não estava comigo. Não sei porque, mas nem consegui sorrir naquela manhã. Levantei da cama e ainda meio desacordado meti com força o dedinho do pé na minha mesinha de estudo, mas nem doeu. Sangrou, mas não doeu. Estranho. Depois de arrumado fui à mesa tomar café. Dei bom dia aos meus pais, mas algo dentro de mim me perguntava se realmente havia algo de bom. Depois daquele bom dia eu me aquietei.

Após todo o ocorrido cheguei à conclusão de que meu coração era importante pra mim. Saí de carro e quase atropelei quatro gatos propositalmente, mas eles foram mais rápidos que o carro. Depois que o último gato se salvou eu parei o carro, pela primeira vez pensei, e fui atrás do meu coração. Não conseguia lembrar de nada do dia anterior. Prossegui com o carro bem devagar pra tentar não matar ninguém. Passei atentamente por ruas e ruas, esquinas e esquinas, casas e casas, prédios e prédios.

Nessa minha busca encontrei um prédio que me parecia familiar. O vazio dentro de mim me dizia para não entrar, mas eu quis entrar. Até porque era um prédio bem valorizado. Entrei e fui direto pro elevador. Ironicamente tinha um botão S2, mas no meu joguinho de mamãe mandou deu número 11, apesar de não estar obedecendo minha mãe naquele dia eu o apertei. Quando saí do elevador já tinha uma porta em frente. Sem hesitar dei umas porradas agressivas nela.

A porta abriu e tinha uma mulher lindíssima lá. Loira! Cabelos compridos, lindos, cheirosos e um pouco enrolados na ponta. Ela usava um brinco lindo da torre Eiffel na orelha. Ela tinha olhos verdes hipnotizantes. Fantásticos! E a boca, com certeza a mais linda que já vi. Uma boca bem desenhada que já estava me chamando. E que perfume aquela mulher tinha... Fiquei hipnotizado com ela! E pra completar, com a voz mais gostosa do mundo, ela disse: - Oi meu amor! Já estava com saudade! - pronto! Encontrei meu coração. Na mesma hora que ela terminou de falar eu olhei para o meu pé e respondi: - Aaaaai meu dedinho!

Diego Luque
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Sem



Sem que pudéssemos escolher. Sem que fosse possível evitar. Sem que, ao menos, completasse a sintaxe básica, o ordem direta... A vida passou sob suas retinas. Era o instante. Por um fragmento de tempo, viveu o presente. O que havia sido e o que sempre quis ser pareciam estar, agora, separados por uma fenda. Uma enorme fenda no meio de uma floresta que jamais existiu.

Como as peças de um jogo sendo guardadas após o término da partida, percebera a inutilidade da vida. Pudera. Todos os conselhos foram esvaziados. As palavras bonitas, só palavras bonitas. Que é a vida? - perguntava-se insistentemente.

O desespero de se viver o presente está na angústia de não saber o que esperar. A vida imprevisível. Tudo muda de repente. "Não mais que de repente?" E, o que lera, o que buscara, parecia agora estar próximo. Todos procuramos o sentido-palavra. Quem inventou a palavra?

Sem que pudéssemos perceber, tudo isso passava pela cabeça daquele maldito ser. Odiávamos desde seu nome. Não compreendíamos. Nem queríamos. Arrastamos seu corpo para o meio da avenida. Sem.



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O caminho do Rio!


“Mas se você quiser alguém pra amar ainda...” cantarolou enquanto deitava por cima de mim e me beijava lentamente.
“Mas fica um pouco mais, que tal mais um café? Ainda lembra disso?” sorri.
Eduardo me observava como se estivesse apreciando cada centímetro do meu corpo, deitou ao meu lado e com as pontas dos dedos passeando em meu corpo, sorria ao sentir que estava me arrepiando, encostou sua cabeça do lado da minha e sussurrou em meu ouvido “Você é um sonho bom que mudou o tom da minha vida comprida”.
Levantei da cama, puxei ele pelas mãos.
“Aonde vamos?” perguntou.
“Vamos pro Rio comemorar o dia de São Ninguém” sorri.
Ele ficou me olhando como se quisesse dizer “você não tem jeito”. Pegou uma mala preta que estava em cima do guarda-roupa e colocou nossas roupas dentro.
“Você realmente quer ir?” perguntei.
“Aonde você quer estar, eu também quero”.
“Mas você disse que não gostava do Rio...”
“Paola, você quer ir ou não?”
“Eu quero”
“Então nós vamos”
Sentei na beira da cama e fiquei pensando sobre os acontecimentos dos últimos dias, estava tudo tão perfeito que me assustava, principalmente porque o medo do depois me assombra. Eu não gostava de pensar sobre isso, mas era inevitável, principalmente quando olho para ele e sinto que estamos sendo felizes, e querendo ou não a felicidade é assustadora.
“Gosto da solidão de São Paulo, mas se você gosta da alegria do Rio, nós iremos para lá e ficaremos quantos dias você quiser.” Ele dizia enquanto abria a porta, e fazia um gesto para que eu saísse primeiro.
"Para de ser bobo, pode ir na frente princesa.." disse sorrindo. 
"Ok, mas eu arrasto a mala de bolinhas."
Sorrimos.
                                    x-x-x-x

                            
                     Continua...


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Quebre o meu coração



“Quebre o meu coração. Quebre quantas vezes você quiser. Ele sempre foi seu de qualquer jeito”. - Kiera Cass

É engraçado como eu sempre pensei que sabia o que era amor, até conhecê-lo, e eu o nunca quis de fato. Eu tinha tudo na minha vida. Minha família, meu emprego, e meu suposto amor. Meu mundo era perfeito, e eu não precisava sair dele. Até que eu não tive escolha.
Uma onda de confusões me obrigou a sair da cidade, sozinha, porque de algum fato, eu seria útil na matriz da minha empresa em outra cidade. E eu precisei partir sem ele, que até então, era o mais próximo que eu havia chegado do amor. Então, eu conheci Matt.
Ele era o oposto de tudo o que eu imaginei ser o certo, e em minha cabeça, eu jamais me envolveria com uma pessoa daquela personalidade, mas eu não sabia que poderia haver mais que aquilo.

-Boa dia, sweetheart. – ele disse com um sorriso no rosto enquanto passava pela minha mesa.
- Eu não sei o que você quer falando palavras em inglês que eu não conheço, mas pode guardá-las para você, ou para as outras mulheres que estão ali na porta desesperadas pela sua atenção – eu mostrei o caminho com meus olhos, e dei um sorriso debochado.

Essas foram as nossas primeiras palavras, e depois vieram outras, e outras, e brigas, discussões, até que um dia, eu não me lembrava mais porque eu tinha tanta repulsa por aquele homem.
Ele era gentil, e queria me conhecer por inteiro. Não se preocupava com o que eu vestia, ou para o tamanho do meu salário, nem para o meu cabelo, ou se eu estava usando salto alto. Ele se preocupava com a minha felicidade, e conforto, para que mesmo estando longe de casa, eu me sentisse no lar. E com o tempo, minha casa não era mais o meu lar, aquele lugar era. Mas as coisas não eram para serem fáceis, e Luke, o outro, também foi mandado para trabalhar naquele lugar.
Nós não tínhamos mais vínculo nenhum, mas eu seu coração, ele tinha esperança, e por eu não entender o que era amor, eu me prendi em uma confusão. Um dia, eu teria que voltar para casa, depois de toda a “guerra” que estava acontecendo no país, e o que me garantiria que Matt iria querer que eu ficasse? Seria errado ter um plano B? E então, o pior aconteceu.
Eu não tinha mais dúvidas de meu afeto por Matt, ou sobre minhas decisões, mas Luke não compreendia isso, e colocou tudo o que eu tinha em risco.

- Por que você não pode admitir o que sente? – ele dizia no meio de um dos seus ataques de nervosismo.
- Qual é a segurança que eu tenho de que qualquer um desses sentimentos é recíproco. Você já falou várias vezes sobre o seu, mas nunca objetivamente. Sabe como é difícil achar que você ouviu uma coisa, mas na verdade nunca ouviu? – perguntei com lágrimas nos olhos. E por um momento ele parou de andar para todos os lados.
- Você não entende que é difícil pensar que disse uma coisa, mas nunca disse? Ou de que já deixou tão claro que não precisava dizer com todas as palavras? – então ele se levantou e saiu em direção da porta, dando de cara com Luke.

Nesse momento, ele olhou para mim, e para ele, e para mim de novo.

- É por isso que você nunca afirmou nada de fato, não é mesmo? Por causa dele – ele apontou para Luke, com uma raiva que eu jamais tinha visto antes. – Esse tempo todo você estava me usando, enquanto estava com ele. – ele saiu enquanto cuspia as palavras.

Eu olhei para Luke com muita tristeza nos olhos, mas ele parecia ter algo importante a dizer.

- Eu não vim aqui para te ver, ou tentar falar mais nada com você, porque eu percebi que não estou mais a essa altura. Mas nós precisamos sair daqui depressa, há uma verdadeira guerra começando lá fora, e eu ainda preciso tentar avisar o seu “amigo”. – ele disse me puxando pelas escadas.

Ao chegarmos na rua, Matt estava paralisado em frente ao portão do meu prédio, com uma arma mirando em sua cabeça. Ao perceber a minha presença, ele tentou manter a calma, mas o atirador, rapidamente entendeu o drama, e mudou o alvo da arma, para mim. E foi quando eu me congelei, e tudo que eu vi, foi Matt se jogando em minha direção, e depois seu corpo em meus braços.

- Eu te amo, Mary. – ele falou tentando procurar suas forças - Quebre o meu coração. Quebre quantas vezes você quiser. Ele sempre foi seu de qualquer jeito. Eu não me importo se você me machucar de novo, ele sempre será seu, para amá-lo ou destruí-lo. Eu te amo, sweetheart. 


Foi quando eu entendi que amor não era só felicidade. Era luta também. Era mágoas, era desespero, mas que no fim traria paz, um lar, um abrigo, mas que você só conheceria se lutasse. Eu descobri que amor era ele, e a forma como ele me amava, fez entender o que seria amar alguém. E eu sabia isso, porque eu não pensaria duas vezes, antes de lutar para salvar a vida dele, mesmo que isso custasse entregar a minha vida. 

Andressa Oliveira
Inspirado no Livro "A Escolha"
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3ª Guerra Mundial no mundo de quem?

Chegou como quem venceu a terceira guerra mundial (letra minúscula). Mas não há vencedores em uma guerra. São todos Caim. Mas como elegera a violência como estilo de vida, sentia-se plenamente satisfeito. Sempre dizia para si mesmo que sua defesa era legítima.

Perdeu as contas de quantos corpos (como gostava de se referir àqueles que não eram seus)...

Naquele programa de tv, que dá pena, anunciam a morte de Abel e as investigações que apontam Caim como principal suspeito.

- Põe na tela! Pode por, meu filho! Vamo, Vamo, que a gente tem que voltar no caso da mulher que arrancou os polegares do marido! Sem polegar, quero ver o safado usar smartphone pra falar com ex... Vamo lá! Reportagem na tela:

(narração)
"A história de Caim e Abel todo mundo já conhece, a gente mostrou com exclusividade aqui, logo depois da reintegração de posse do Jardim do Éden. Mas resolveram reabrir as investigações, uma vez que, crimes semelhantes continuam acontecendo."

(corte para o apresentador)
- A gente vai agora ouvir a psicóloga forense Dra. Harmanda. Ela coordenou uma reconstituição do crime e traçou o perfil psicológico de um Caim em potencial... 

(Harmanda)
"Um irmão mata o outro irmão. Parece corriqueiro por aqui. Mas nem sempre foi assim. Nossos estudos apontam para Caim, como precursor de um comportamento humano letal. O caso mais recente é o do traficante Abel Joaquim, o Kim. Ele foi morto pela polícia. Todos o reputavam por Caim, mas a grande surpresa nos causou quando seu verdadeiro nome foi revelado. Caim foi aquele que o feriu. Em nossa reconstituição da cena ficou evidente que Kim, o Abel, era quem oferecia melhores condições a sua comunidade. O atirador, que disse se sentir 'vencedor nessa batalha' já foi visto diversas vezes oferecendo péssimo serviço aos moradores daquele lugar. Ser Abel ou ser Caim é uma escolha do indivíduo. Tem Caim dos dois lados. Sabemos que o que Estado oferece ao povo é ridículo. Mas o Estado não existe, as pessoas existem, elas preferem eliminar quem faz o que tem que ser feito. Toda guerra começa com o sentimento de um Caim..." 


(o apresentador interrompe)
- Olha só esses homens aí, cada um de um lado da guerra. A nossa guerra urbana de cada dia! Só não entendi o porquê de teoria, reconstituição de Caim, Abel! Corta pras mãos sem os polegares! Agora bota a cara da mulher que fez isso! Já, já a gente volta... Polegares, polegares, onde estão? Aqui estão...


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O segundo sol da meia-noite!

Eu sou o segundo sol da meia-noite, eu corri através do espaço, sou o cara certo pra aquela poesia que se formava em seus olhos quando alegremente me sorria.


Eu quero ela, quero ele, quero nós três. Não fugirei enquanto as nuvens nos encobrirem madrugada a fora.


Cada noite um sonho entre a meia-noite do nosso sereno gesto .


Essa canção é pra você minha querida, que não me surpreende ao andar.


Vamos correr como gazelas ao sol da meia-noite.

Nesse caso desenrolo o buquê do seu sotaque pioneiro. Cheiro seu pescoço enquanto ele beija suas mãos, oh querida, minha situação é tão constrangedora,

Me permita dizer como é estar no nosso lugar.

A nossa história não é de amor, é sobre o beijo celado entre nossos encontros cheios de fumaças de felicidade enquanto o campo permanecia verde e a lua brilhava amarela sorrindo. 

Coloque na boca a vibração do pequeno câncer do futuro, trague a fumaça e nos beije. Ou ou ou ou eles não dançarao para nós. Eles os duendes verdes. Cheiro seu pescoço enquanto ele beija suas mãos, oh querida, minha situação é tão alienadora. Eu sou o segundo sol da meia-noite. Nesse caso o segundo. O segundo pra te ter em primeiro e ele deixemos por último. Eu sou o segundo sol da meia-noite a brilhar para iluminar os caminhos escuros da beleza do nosso círculo queridos. O segundo sol da meia-noite. O segundo sol da meia-noite. Correndo ou fugindo. O segundo. O sol. O segundo. Da meia-noite.

Karen Lancerotti