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Deixa-lo ser história

Que bom acordar e saber que você foi um sonho. Outro dia uma amiga me disse no telefone:
-Você deve deixa-lo ser história. Deixa-lo virar passado.
Eu concordei e meu coração apertou. ''Deixa-lo ser história''.

Achei que seria tão difícil isso de te deixar passar e realmente foi. É que eu sou solitária, não tenho um amor, por isso me prendo a tudo que é bonito. Mas hoje me espantei ao ver uma foto sua e descobrir que não me despertou emoção, nem nada no estômago, hoje já faz tanto tempo que não te vejo e posso garantir que estou bem.

Todas as coisas voltaram ao lugar, até mesmo a minha fé, ontem a noite depois de tanto tempo consegui conversar com Deus. Você veio e me bagunçou, mas agora tua brisa passou e eu me sinto mais leve.
Não quero mais ler suas mensagens, nem aquela frase final que me disse outro dia antes de dormir ''Senti sua falta...'' O impacto que você causava se perdeu e ao se perder me devolveu de volta a minha vida.

Hoje você é história e está tão distante que é como se tivesse sido um sonho, mas a confusão que me causou eu guardei na memória só para não esquecer que um dia Você Foi Verdade. Agora só ficou um enorme vazio, que logo será ocupado por uma nova inspiração. Quem me dera gostar de ficção.

Bruna Nunes
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Eu sei

Eu sei que se eu te encontrar de novo, eu vou tremer.
As borboletas vão surgir, e eu não saberei o que dizer.

Sei que se você me ligar, eu não vou desligar.
E vou conversar por horas, mesmo sabendo o que você vai pensar.

Eu ainda sei que se você aparecer, eu não fugir.
Mesmo não querendo sentir. Mesmo sabendo que não vai evoluir.

Então por enquanto, eu vou acreditando que nada disso vai acontecer.

Que tudo isso não passa de uma alucinação que eu criei antes de dormir, e que por enquanto você não passa de alguém que eu conheci.

Mas eu sei que se eu te encontrar de novo, eu não vou resistir.
E tudo que eu achei que poderia esquecer, vai de novo surgir. 

Andressa Oliveira
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Pra não dizer que flores não falam - Final 1°Ato

“Estou para realizar a minha última viagem, um grande salto no escuro.”– Thomas Hobbes

A noite parecia distante. O silêncio parecia solene. As pessoas pareciam inertes. Em nenhum olhar Dália enxergava um brilho qualquer, uma desculpa qualquer que a fizesse mudar de idéia. Todos pareciam vazios e sem vida, andando também sem direção. Talvez os andarilhos daquela madrugada insone caminhassem para o mesmo fim que ela, mas em pontos diferentes da cidade.

“qual a grande busca de todos?” “se colocassem as mãos no que mais desejam e percebessem que aquilo também nãos os preenche, o que fariam?”

Frases das paredes lhe assaltavam a memória.

Nos seus passos não havia medo, nem ansiedade. Era como se aquilo devesse acontecer e ela compreendesse o motivo. Nas costas, entre a calça e a pele, a arma lhe lembrava, presa na cintura, que o dia sempre amanhece, independente dos olhos abrirem ou não. Para quem o sol mostraria sua luz? Que quarto ele invadiria? Que tipo de pessoa iria acordar irritado e preguiçoso? Quem tomaria aquele café requentado sem ao menos saber que em pontos da mesma cidade, pessoas morrem em silêncio? Ela se divertia criando histórias possíveis, realidades que ela nunca viveu.

Uma lâmpada, de um poste piscava prestes a apagar. Não conseguia manter a própria luz estável. O zunido fazia parecer que lutava para se manter luzindo. Dália sorriu. Um poste, naquela madrugada, era a única coisa que a compreendia sem ela precisar dizer uma palavra.

...

Eduardo levantou bem antes que o despertador ligasse. Eram 3h47. Sentou na cama absorvendo o silêncio da casa. Levantou. Coçou a bunda e andou em direção ao interruptor. A luz foi acessa. Havia alguma coisa diferente que ele não sabia o que era, apenas percebia. Pegou o maço em cima da escrivaninha. Tirou um cigarro. Com ele na boca, ainda apagado, notou a arma, ou melhor, a falta dela.

- Dália...- gritou do seu quarto, mesmo sabendo que não haveria resposta.

Saiu pelo apartamento ascendendo às luzes. Alguns móveis fora de lugar. Entrou no quarto onde ela deveria estar. A luz já estava acessa. No colchão viu um caderno aberto. Leu as últimas coisas e sentiu um frio mórbido invadir sua mente.

- Desgraçada...

Vestiu as roupas de qualquer jeito. Com o caderno embaixo dos braços, pegou as chaves do carro. Iria seguir seus instintos para encontrá-la, mas não nutria nenhuma esperança.

...

Algumas coisas a vida nos ensina no desespero. Foi assim que Dália aprendeu, naquela noite, a abrir o tambor e retirar as quatro cápsulas, deixando apenas uma para o primeiro jogo de sorte.

Estava num beco. Pouca luz. Pouco movimento. Pela primeira vez sentiu o tremor lhe tomar o corpo. Olhou a arma. Uma comoção lhe invadiu. Sentiu as bochechas quentes. Os olhos enchendo de lágrimas. Isso era tudo o que sua vida havia produzido?, pensava. Tiraram sua pureza, suas centenas de possibilidades, e agora era sua vez de tirar alguma coisa da própria vida. Girou o tambor. Prendeu a respiração. Levou o cano até a cabeça. Pensou no urso que havia ganhado naquele parque. Fez o primeiro disparo. Tudo o que ouviu foi um barulho seco. Apenas um estalido. Soltou a respiração com força, engasgou com a saída e entrada de ar. Tossia, sorria e chorava. Não sabia se aquilo significava sorte ou azar. Aumentaria a adrenalina. Inseriu mais uma cápsula. Agora eram duas em cinco para ganhar ou perder. Girou o tambor. Prendeu a respiração. A mão não tremia mais.

“A vida é uma só e ninguém nunca sabe de fato o que há no outro lado. Tudo o que sabemos sobre vida eterna está em livros de pessoas que já morreram.”

Outra frase de parede e depois de mentalizá-la, como uma reza, fez o disparo.

...

                Eduardo havia rodado pelos quarteirões. Dirigia devagar. Olhava cada andante nas ruas. Sem sorte, decidiu ir até onde ela morava, talvez lá houvesse algo que lhe desse uma direção.

Estacionou o carro um pouco longe. Observava aquela rua de certa distância. Precisava se assegurar que camaradas como aquele velho não estariam por ali, esperando um vacilo do “herói” inoportuno ou da mocinha descontrolada.

O tempo que se deu foi o de uma tragada. Enquanto o cigarro ia sendo consumido e virando cinzas não percebeu nada. Nenhuma movimentação, então se sentiu mais seguro. Jogou a bituca e caminhou firme, dessa vez sem ter a segurança que carregava na cintura.

Descobriu, na casa, que não havia luz. Usou a lanterna do celular para iluminar o espaço e sua atenção foi sugada pelas palavras em vermelho que enchiam as paredes. Não teve como, ele começou a lê-las. Sem tempo para ler tudo, sete ou dez frases depois iluminava as paredes do outro cômodo e nelas também haviam vozes em textura de giz. Não sabia o que pensar a respeito. Lembrou do caderno. Correu para o carro. O pegou em cima do painel. Dessa vez abriu nas primeiras páginas. Encostou-se no carro. Lia concentrado cada texto. Aos poucos foi entendo a história inteira. Coisas que ninguém ouviu, ali, em linhas retas pré-impressas. Garranchos, rabiscos, desenhos, confissões diluídas em papel reciclado. Entendeu o desespero de Dália.

Lendo as histórias da escola onde ela estudou e as referências a uma casa grande e luxuosa ele soube onde poderia arriscar tentar encontrá-la, ou talvez a mãe, esperando não ser tarde demais.

...

Dália permanecia com os olhos fechados. Outro som seco. Duas chances em cinco e ela ainda respirava. Ajoelhou, tomada por uma fraqueza súbita. Sentiu-se privilegiada pela vida insistir em vê-la por mais alguns instantes. Não havia foice, mas sabia que a morte estava ali, paciente, esperando.

- Duas em cinco e eu permaneço viva...vamos a última roleta. Vamos testar cinco em seis. Cinco cápsulas e um espaço vago. Que a sorte e o azar joguem, e que ganhe o melhor. – ela sussurrava, ofegante, suando frio.

Pegou as três cápsulas que estavam fora do tambor e as inseriu. Percebeu uma movimentação por ali. Resolveu que o último jogo de roleta seria em outro lugar. Iria ser na frente de onde tudo havia começado. Se a arma disparasse o jogo terminaria, se o som seco soasse outra vez ela retornaria para vida que tentou fugir. Foi esse o trato que fez consigo mesma.

Levantou e, como quem aprecia os últimos instantes de consciência, caminhou em direção a seu glorioso palácio. Não era tão perto quanto gostaria, mas sentia que esse seria o fim ideal.

...

Eduardo não sabia ao certo onde era a casa. Ouviu a respeito dela algumas vezes. A escola ele conhecia. Foi até lá, na esperança de encontrar algum moribundo que soubesse lhe indicar a casa de luxo.

Não havia muitas pessoas na rua naquele horário e na escola nenhum zelador. Perto dali havia um bar de aparência bem precária. Tentaria a sorte.

Lá dentro somavam quatro com o cara atrás do balcão.

- Boa noite.

Todos o encararam. Sérios. Ninguém respondeu. Nos rostos dos três moribundos o suor seco de dias sem banho. O garçom limpava os copos sem dar importância ou atenção a nada a sua volta.

- Alguém poderia me dizer onde encontro uma casa de luxo pra... enfim. É aqui perto?

Continuaram sem responder.

- Certo. Não sabem... – olhou para o garçom – Ei, me vê uma vodka com água.

- Quem procura casa de luxo tem dinheiro. – disse um dos três fregueses da casa.

Era um gordo troncudo, de 1,90m, apoiando a mão no balcão e mostrando um sorriso amarelo de quem encurrala uma presa fácil.

- Ramirez, no meu bar não! – alertou o garçom.

- Tá a fim de se divertir também gorducho? – perguntou Eduardo.

- Como que é? – cerrou os punhos se sentindo ofendido.

- Eu pago a sua lá. Você sabe onde é a casa?

- Viu Ceará, o sujeito é amigo. Ninguém ta querendo zoar seu bar. – Ramirez sentou no banco ao lado de Eduardo.

- E então? Sabe ou não sabe como chego lá? – Eduardo falava sem lhe dirigir atenção. Seus olhos observavam Ceará preparando sua bebida.

Ceará colocou a vodka com água na frente do Eduardo.

- Sei sim... e você sabe, toda informação por aqui tem um preço. – soltou uma gargalhada sem sentido, mostrando dentro daquela boca uma língua de superfície branca e porosa.

- Ceará – perguntou Eduardo – como anda a fiscalização do seu bar? – disse isso dando um gole e olhando fixo para o rosto do garçom.

O silêncio e os olhos que se estalaram, mostrando um pavor que não deveria ser visto, deram a resposta que não saiu da sua boca.

- Imaginei. – Concluiu Eduardo levantando com o copo na mão.

- E então, tio. Vamos negociar agora ou depois? – Ramirez o seguia com os olhos.

O copo explodiu na parede sem aviso prévio. Todos abaixaram a cabeça. Eduardo pegou um dos cacos no chão. Levantou rápido e com uma das mãos pressionou a cabeça de Ramirez no balcão que respirava ofegante pelo susto e por sentir o caco no pescoço.

- Você ta maluco??? – gritou Ceará – Porque fez isso com meu copo?

- E então, Ramirez, vamos negociar. O que acha? – Eduardo pressionava a ponta do vidro – Os três aí: não tentem nenhuma gracinha. Eu só quero conversar com meu amigo aqui. E Ceará, nem pense em fazer o que acho que você está pensando, você não ia querer receber outras visitas aqui se gosta tanto assim do seu bar.

Ceará levantou as mãos para o alto.

- Agora acho que podemos conversar melhor, não é Ramirez?

- S..sim...e-eu só t-tava brincando c-cara!

A mão direita de Eduardo pressionava mais a cabeça dele contra o balcão.

- O acordo é o seguinte, você me fala onde é a casa e eu não faço jorrar groselha do seu pescoço.

Ramirez começou a rir talvez de nervoso. Parecia ter perdido a noção da realidade e agora brincava diante do risco.

- Você não teria coragem... me matar por uma trepada de luxo? – sua voz saía esnobada e o som saía espremido por Ramirez estar sendo pressionado.

Eduardo afastou a mão esquerda do pescoço. Olhou o caco e viu que era grande o suficiente. Fez um tipo de luva com a manga da blusa. Ainda pressionando a cabeça de Ramirez, cravou o caco na lateral da barriga, na região do rim.

- Vai querer saber se eu teria coragem de fazer uma cesariana também? – perguntava num tom neutro, como se não tivesse feito o que fez.

O corpo de Ramirez relaxou. Da sua boca, alem do bafo, saíam gemidos. Ceará deu um passo para trás.

- E aí gorducho? Uma informação e deixo o caco aqui pra ele continuar estancando o estrago. Não me obrigue a...

- Ok, rapaz. Chega. Você já fez muito por hoje. – pediu Ceará.

- Onde é o lugar?

Ceará explicou, olhando o gordo no balcão. Eduardo soltou Ramirez, que parecia ter pequenos espasmos. Os outros dois presentes no recinto pareciam manequins que não tem olhos para ver o preço de nada e nem pagariam para ver. Permaneceram quietos, parados. Eduardo já havia saído do bar.

- Você sabe que eu não vou deixar isso barato, não é? – gritou Ceará sem obter resposta.

Eduardo se dirigiu ao carro. Ele realmente não possuía filtros. Aprendeu a ser assim, a fazer valer apenas seu senso de justiça e ser homem o suficiente para arcar com quaisquer conseqüências advindas disso.

Não sabia o que iria fazer quando chegasse na casa, mas como qualquer outra ação que costuma cometer preferiu deixar para ver como a coisa fluiria.

Em sua cabeça já era tarde demais para qualquer tipo de heroísmo estúpido. O que conseguiria salvar as 4h18? Agora pensava em como iria recuperar a arma, dado a ele pelo avô quando era menor de idade.

Ele tinha 13 quando ganhou o “presente”. Ajudava seu avô atrás do balcão. A mercearia era um negócio de família. Naquele final de tarde dois sujeitos entraram encapuzados. O avô preocupado com a segurança do neto saiu de trás do balcão para tentar negociar com os delinqüentes. Eduardo preocupado com o avô pegou a arma em baixo do balcão. Andou devagar para ficar atrás do seu pai de consideração e não ser percebido. Realizou o primeiro disparo no instante em que percebeu um dos dois colocando a mão na cintura. O tiro acertou o seu velho e os ladrões fugiram assustados. Eduardo ficou parado olhando a figura do avô deitada no chão. Não havia entendido direito o que acabara de fazer, mas sabia que tinha sido errado. Correu para trás do balcão. Escondeu a arma embaixo de uns panos surrados. A avó apareceu em seguida, tremendo, e a única coisa que conseguiu fazer foi gritar ao ver o marido estirado. Eduardo nunca contou a versão oficial. Sua avó faleceu muitos anos depois acreditando que o velho havia sido morto pelos bandidos.

Agora com o carro estacionado na esquina, viu como era imponente a casa de luxo. Havia muita iluminação, música e uma movimentação bem fraca de homens que entravam. Deu mais uma tragada, seu tempo para pensar em alguma coisa. O cigarro se desfez depois de 7 minutos. Ainda não tinha um plano. Abriu a porta do carro e foi em direção ao casarão. Iria tentar encontrar Margarida e ver no que aquilo iria dar.

Colocou as mãos no bolso. Apertou o passo.

- Hahahaha... garoto? – disse uma voz imponente atrás dele.

Eduardo virou. Tudo o que conseguiu foi arregalar os olhos.

- Que sorte a minha e que petulância a sua, hein. Não imaginei que iria te encontrar tão cedo. O que é? Dália fugiu? Hahahaha... ela é quente, não é, garoto? Não imaginei que ela fosse te contar onde vive e trabalha. Você a expulsou de casa e veio pedir desculpas?

Eduardo cerrou os punhos e foi para cima.

- Eu não faria isso se fosse você. – dizendo isso sacou uma arma – Eu estava desprevenido mais cedo, sabe como é, e olha que eu não sou de andar de mãos abanando. Como eu queria encontrar você, garoto. Você é durão. Gosto disso. Será que fura?

O capanga do velho se afastou do patrão e foi, sorrindo, para trás de Eduardo. Cercando-o mantinha tudo sob controle.

- Eu não sei se consigo errar um tiro como você, viu. – engatilhou.

- Não, Portello! – uma voz feminina, embargada, surgia atrás dele.

Portello não virou. Ele começou a rir e continuava olhando para Eduardo.

- É você minha rainha???

- Sim.

Dália já vinha na mesma calçada. O capanga não tinha a visto se aproximar sorrateira e o velho era grande o suficiente para tapar a figura da sonhadora.

- Sabia que você voltaria para mim. O que temos é verdadeiro. E eu já te perdoei de tudo.

- Abaixa a arma, Portello. – pediu Dália.

- Sem caridade hoje, Rainha. Tô sabendo que ele te tratou mal e você lembra o que ele fez hoje...

Ela engatilhou a arma e tentou deixar o braço firme.

- Abaixa a arma, Portello. – ela pediu mais uma vez.

- Nem banque a esperta. - disse o capanga sacando a arma e apontando para Dália.

- Vocês dois estão juntos nisso??? Pra cima de mim, Rainha? Depois de tudo o que fiz por você? E nossa história? Hahahaha... Garoto, eu não sei se acabo com você ou com ela primeiro. Quer escolher?

- É só abaixar a arma, Portello. - Dália ia pegando mais firmeza e direcionando toda sua frustração e raiva para o alvo a sua frente. A voz não estava mais embargada.

- Hahahahaha... Vocês estão dando a melhor noite da minha vida! – Portello ria enquanto uma gota de suor descia pelo seu pescoço.

Eduardo permanecia com as mãos no bolso, encarando o velho e deixando aparecer um sorriso pequeno no canto da boca, um sorriso de escárnio.


A morte aplaudia, sentada numa mureta. Ninguém iria passar por ali enquanto ela não tivesse alguém para levar. Sua gargalhada e excitação não podia ser ouvida e nem o brilho nos seus olhos, de pura expectativa, podiam ser vistos. Esperava, ansiosa, para saber quem seria o primeiro a atirar.

(continua...)
       Ellion Montino

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Leia os anteriores:
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O Barulho Do Silêncio

Ouço ruídos na sala, ruídos que por tão secretos me incomodam, ruídos que me levam à ruína, ruídos que me fazem como uma menina, ruídos. Diante de tantas opções eu decido conferir o que é que tanto rui e ao me aproximar da sala a porta se abre involuntariamente. Diminuo a velocidade dos passos e, devagar e minuciosamente vou me aproximando e, torcendo para obter uma resposta positiva, pergunto:


- É você Rex? – e o maldito cachorro nem me deu moral.


O silêncio vai falando tão alto que meu medo quer aquietá-lo. Vou à cozinha, pego a maior faca, retorno à sala e reformulo minha pergunta:


- Tem alguém aí?


Aos berros do silêncio não escuto nem meu coração palpitar mais. Por alguns instantes eu achei que o silêncio tinha me silenciado. Fico minutos esperando uma reação. De repente, absolutamente do nada, a porta se fecha numa agressividade que no susto desabafei:


- AAAAAAAAAAAAAAH! 


Meu medo se transformou em gritos de alegria depois que a porta se fechou. Descobri que recebi uma visita do silêncio, mas ele já se foi.


Diego Luque
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I see you

Esse texto é maior, mas hoje eu quero que leiam somente esse trecho, porque o restante não faz muito sentido agora...

''Quando eu me casar eu não te convidarei para o casamento, talvez você veja fotos do meu filho em alguma rede social e quando eu lembrar de você saberei que nem de longe foi um grande amor, mas foi minha inspiração e motivo de mil sorrisos abobados e coração acelerado e vou rir da escritora boba que eu sempre fui... E de como eu vivia de bobeira para me permitir certos sentimentos. E das lembranças que você me deixou eu só não quero esquecer teu sorriso, ele é a coisa mais linda em você. Quer saber, um dia desses quero ver o seu sorriso de novo, só para sentir aquela alegria contagiando todo o lugar. Alegria que nem sei se existe mesmo ou se esse sorriso é o seu prêmio, o disfarce que ganhou quando te botaram no mundo! Porque ele é a tradução perfeita da felicidade!''


Bruna Nunes
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Continuar/partir

Como eu vou saber o que fazer, se você não deixa mostrar o seu jeito de ser?
Como saber o que sentir, se você bloqueia tudo o que se
possa transmitir.
Eu devo continuar, ou é melhor partir?
Mas pensando bem, ainda não há  razões para ir.
Se isso não é certo, porque você continua aqui?
Como pode ser errado, se eu não consigo sair?
Eu devo continuar, ou é melhor partir?
E eu me pergunto se você ainda está por vir.
Um mês, dois meses, e agora quase um ano.
Eu ainda não sei o que fazer com o plano.
Me perco no seu olhar, e sei que vai ficar tudo bem.
Me encontro no seu sorrir, e não posso dizer o que sei.
Eu devo continuar, ou é melhor partir?
Continuar. Con-ti-nuar. Contigo estar…
Partir. Par-tir. Para ti…
Em todas as opções você está aqui, então diga.
Eu devo continuar, ou é melhor partir?

Andressa Oliveira
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deixa pra la

De repente, estávamos lá, eu e minhas verdades frente a frente, eu pensei em sair correndo e me esconder de novo, porque ficar de frente com elas, me faz parecer uma criança assustada, e eu acabo inventando meias verdades pra substituir ou tirar a dor das verdadeiras.
Eu devo ser covarde, ou forte demais, talvez eu seja contraditória em tudo que disse até aqui, talvez alguém se encontre no meio da confusão, e se perca quando as coisas começam a se ajeitar..
Eu e o desabamento da estrutura sempre fomos aliados, mas algo sempre me puxa pro topo novamente, até que rápido se torna uma divertida roda gigante, onde por vezes eu fico cega, já nos próximos minutos enxergo toda a tragédia..
Sem dramas, ou emoções exageradas, os seres humanos tem sido mesmo uma grande tragédia, e me incluo nisso, te incluo nisso..
Há uma coleção de erros escondida comigo, embaixo da cama, no fundo do armário, na parte do cérebro que eu nem uso, no fundinho do coração onde para de doer, nas minhas unhas roídas e numa pilha de papel rasgado em algum lixo por aí..
Incrivelmente, meu coração continua pulsando, vez ou outra mais forte, continua cansado de cansar..
Deixa isso pra lá...
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Ainda Não É O Desfecho

Pois é! A vida nem sempre é como a gente quer. Muito pelo contrário, sempre ouvimos que ela é uma caixinha de surpresas. E de dentro dessa caixinha eu tiro uma surpresa para você que aguardava o último capítulo de "Pra não dizer que flores não falam":

Por motivos de "estar sem internet", o nosso querido escritor Ellion, não poderá publicar hoje o desfecho de sua trama. Mas os textos do blog continuam todos os dias dessa semana e na próxima terça o Ellion estará de volta.

Pedimos desculpas a você que estava tão ansioso para o texto de hoje, mas acreditamos na sua compreensão também.

Até uma próxima!

Diego Luque
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A Mentira Tem A Perna Bem Longa

Já era tarde e eu estava sentado naquele sofá de couro, antigo, todo cheio de ranhuras que vovó me deu no dia em que minha cama havia quebrado, quando percebo que a lua estava ao meu lado. Acredite você ou não, mas ela estava ali toda lindona tentando me seduzir. Eu até toquei nela. Naquele momento fiquei pensando no trabalho árduo que aqueles americanos tiveram para levar um homem à lua e ela veio toda fácil para o meu lado. Com certeza a primeira lua que pisou na terra.

Eu fiquei muito tempo parado olhando para ela pensando algo bem inteligente para dizer, afinal, era a lua que estava toda nua sentada ao meu lado no sofá que agora estava na rua. Pois é, não sei como nem por que, mas agora nós estávamos sentados no sofá na rua em frente à minha casa. Ela me perguntou se eu estava me sentindo bem mesmo estando sozinho. E eu disse que não estava sozinho. Eu tenho minha família, meus amigos e tinha a lua toda só pra mim. E nesse momento, quando eu pisquei tudo mudou como num piscar de olhos.

A lua não era mais lua, eu não era mais eu e nós não estávamos mais no sofá na frente de casa. A partir daquele momento a lua se chamava Wilson, nós estávamos no meio do nada e eu era o Tom Hanks. A lua tinha razão. Eu estava sozinho. Toda aquela nossa cena de amor que estrelávamos na frente da minha casa transformou-se num náufrago. Wilson olhava pra mim com cara de bola. Ai como eu queria que ele voltasse a ser lua. E naquele momento eu dormi.

Péssimo momento pra dormir. Quando acordei estava no meio do oceano, numa água muito gelada, com um apito na boca. Eu apitava e gritava: Rose! Rose! Agora eu era o Leonardo Di Caprio e estava morrendo de frio depois do Titanic ter batido naquele maldito iceberg. Que droga de vida! Eu gritava o nome de Rose e ela gritava Jack e eu morria de frio. Vamos Rose! Dá um espaço nesse pedaço de madeira pra mim, mas nada dela se compadecer. Mulher ingrata! E eu morri. O gelo foi o meu fim.

E quando pensei que aquele realmente era meu fim me surpreendi ao ressuscitar. E muito mais surpreendente, agora eu era o Ranger Vermelho. Pô, pelo menos algo de bom me aconteceu. Eu sempre quis ser o Ranger Vermelho e agora eu era. Aquele foi o momento mais feliz da minha vida. Eu era o ranger que eu sempre quis ser e ainda pegava a Ranger Rosa. Meu maior sonho, mas é claro que eu não seria assim pra sempre.

E eu fui piscando. E toda vez que eu piscava eu ia me transformando. Eu fui o Batman, o Hulk, o Capitão Caverna, a Bela Adormecida, o Dick Vigarista, a Susan Boyle, todos os personagens de Os Batutinhas, a Pequena Sereia, o Pikachu, a Carly, o irmão dela, o Mogli, o Ronaldinho Gaúcho, a própria Lua, o Sol, o Mar, o Facebook, o Mark Zuckerberg, a minha mãe, minha tia, minha irmã, o Michel Teló, o Luan Santana, o Camaro Amarelo, e o Pinóquio. E é claro que tudo isso é mentira!

Diego Luque
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Autocontrole

O barulho que está fazendo esse computador me atrapalha, mal posso me concentrar e escrever bem o meu texto. Posso levantar e empurrar essa mesa com tudo que está em cima para baixo? Não, porque depois eu teria que arrumar e provavelmente pagar algum estrago. Eu estou cansada!
Cansada porque ando pelos corredores e não vejo mais você, tudo bem, isso é um pequeno detalhe, não é mesmo? A vida avisou que ela seria imprevisível e o destino avisou que ele tomaria conta de tudo. Mas com que rapidez tudo mudou nesse lugar, hein? A vida e o destino foram ligeiros ao me mostrar quem é que manda.

Definitivamente esse não é mais o lugar que costumava ser meses atras, mudaram as pessoas, o que já é assustador, mas principalmente não tem mais você, o que torna tudo um grande tédio.
A verdade é que estou tentando me agarrar a tudo aquilo que eu gosto de fazer, quero pedalar até minhas coxas doerem e quero ouvir música alta enquanto arrumo a casa, quero beber tudo o que me agrada num dia só e quero reunir todos os meus amigos numa grande festa, ou dormir um dia inteiro e quando acordar ler um livro. Faço qualquer coisa pra não pensar em você e na sua voz. Aparentemente vem funcionando, eu já não vejo o seu rosto com tanta clareza nas minhas lembranças e nem lembro a frase mais bonita que já me disse (ainda lembro a frase, mas pretendo esquece-la em sete dias). Estipulei um prazo para não mais entristecer quando me lembrar de você, a vida tem os seus segredos, o destino tem o seu poder dominador, mas eu tenho autocontrole e estou começando a descobri-lo agora, sou minha maior ajuda, na verdade a única capaz de te tirar do meu cérebro e peito, sou um livro de autoajuda feito de experiencias e agora é hora de usa-lo. Não preciso de um novo amor ou frases de estimulo, olha só, eu me tornei adulta, não posso mais me permitir certas dores, finalizo então esse texto feito pra você e volto a me focar na minha vida, com menos você, distraindo os meus sentidos e borrando a minha memória toda vez que ela ousar trazer você. Em sete dias quero sentar e conseguir escrever sobre outras coisas e outras pessoas. 
Que bom que não derrubei a mesa e o computador, meu autocontrole está demais hoje. Me olho no espelho, não gosto só do QUE VEJO, gosto de QUEM VEJO, hoje até as minhas olheiras me agradam.... Acho que quem perdeu foi você.