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O Vácuo

Eram 2h da manhã. O sono não havia chegado, ainda. Talvez estivesse em algum bar ou voltando de carona com alguma amiga que tem mania de ficar até o fim de qualquer programação proposta.

Bebidas, música, shows, dança, enfim. Seja qual for o motivo, o sono permanecia perambulando na rua e nada de ligar, dando qualquer sinal de vida.

Fico preocupado com essas saídas que o sono costuma dar agora. Vivo ouvindo que o mundo está perigoso, que as cidades não são mais como antes. Então enquanto ele não chega, eu não durmo. Não sei o que há de tão interessante lá fora para ele ter pego o costume de fazer isso com frequência.

Ja fazem algumas semanas. Ou talvez o problema seja aqui dentro e ele sai para desafogar. Acho isso um puta egoismo, afinal, como fica minha tranquilidade nessas horas tão altas?

Tem sido assim ultimamente: Vejo ele se afastar e então sumir. Não diz pra onde vai, com quem vai e muito menos que horas pretende voltar.

Eu tento dormir, mas não consigo. Fico imaginando por onde ele anda, porque não volta logo, porque tem feito isso, o que há de errado por aqui? Coisas desse tipo. Preocupo-me, de verdade. Ele, parece que não. Quando chega não diz nada. Nenhuma justificativa. Nenhuma história incrível. Nenhuma confissão engasgada. Nada. Chega em silêncio e apenas diz que está tarde e que é bom dormir, por causa do dia que começa cedo.

Nossa relação não anda muito bem. Alguns dizem que é fase. Outros, que é falta de diálogo.

Uma noite dessas, enquanto ele não chegava, estava andando pela casa. No DVD rodava Los Hermanos. Dirigi-me ao banheiro. Olhei para o espelho e da sala ouvi a letra que dizia:

"Sei que a tua solidão me dói!"

Repeti a frase para mim, me olhando no espelho. Então percebi o sono chegando. Tarde. Bem tarde. Depois só lembro de ouvir o despertador as 5h30.

Tá complicado essa fase que estamos passando. E nem o silêncio anda falando comigo. Não sei se ando fazendo algo errado ou se foi algo que eu disse. Quando pergunto, não sabem responder.

E tudo fica assim, meio suspenso quando o sono não volta e enquanto não tenho respostas para as perguntas que faço.

Ellion Montino
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Amor Em Versos

No íntimo do coração existem palavras ao léu
E a necessidade de combiná-las implora à alma
E no rebuliço interior clamando ao céu
Suplica o amor sonhado em calma

O pacto do amor com a tal poesia
Sutiliza o ápice do sentimento ousado
E transforma a emoção que é só regalia
Na lástima de um coração enamorado

Nos versos escritos o amor já está gravado
E de uma forma tão fiel que o visível não pode apagar
E o traço invisível que ficou abandonado
Delineia com carinho a face do amar

Não sei se corro atrás de versos e conquisto alguém
Ou se conquisto alguém e deixo o amor fluir em versos
Pois no amor que flui de um lugar além
Aflora o início do beijo antes incerto

E se o tocar dos lábios é o que tem de mais concreto
Confio na utopia que me faz sonhador
Seja o beijo um sonho ou um decreto
É a esperança vindoura do complexo amor


Diego Luque
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Minha Mente e Você

O dia amanheceu tudo em seu lugar
Mas meu pensamento continua a te procurar 
Eu sei, não é normal o que eu estou sentindo 
O que eu faço pra te ter aqui comigo?

Então me diz por que eu penso tanto em você? 
Quando o mundo inteiro fala para eu te esquecer. 
É impossível mas eu gosto de acreditar, 
Que um dia por aí eu vou te encontrar.

A noite veio e continua a me torturar 
Nos meus sonhos eu só vejo o seu olhar 
O meu coração diz que sim e a cabeça diz que não 
Tudo isso acaba em mais uma canção

Então me diz por que eu penso tanto em você? 
Quando o mundo inteiro fala para eu te esquecer. 
É impossível mas eu gosto de poder sonhar, 
Que um dia por aí eu vou te encontrar.

Andressa Oliveira
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As chances que ganhamos

Ver um milagre de perto não é uma tarefa tão fácil quanto parece, Entre todas as pessoas do mundo, você é o escolhido, pra naquela noite, naquele farol, presenciar, e ser um milagre. 
O barulho é tanto, que fez silêncio. Os segundos são rápidos o suficiente pra nem parecer que aconteceu, são infinitos pra tanto sentimento junto..
Tudo e todos que ficam em sua mente quando parece que não vai ter saída, são os mesmos que te fazem achar força pra conseguir logo um jeito de sair..
E então, dessa forma eu redescobri: isso é amor!
O amor incomparável de Deus por nós. O amor que nos guia, ou aquele amor que um dia eu pensei que era bobagem, coisa que nem precisava mais sentir, mas acordei pra verdade mais linda que pode existir: é o amor que nos move, o resto é nada!
Decidi deixar todo o resto pra lá, e me lembrar de que tudo que enxergo é lindo, mas não existe nada mais importante que as coisas invisíveis, nada mais forte do que as mãos que não enxergo mas me salvam, nada melhor do que ouvir seu coração bater perto do meu como quem diz: 'não fique longe nunca mais..
' O amor faz milagres, o amor é um milagre, o resto é nada!

Thaynara Romero
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Os Substitutos

"Sento numa beira qualquer daquele velho e mesmo ponto de ônibus, com aquele ar de não estar onde se está. Acho que você já sentiu isso.
Um alarme de loja apita. Um carro acaba de fechar um outro. Buzinas. Xingamentos. Dedo do meio. Um casal discute em pé no meio do nada. O pipoqueiro acaba de ganhar mais dois reais. O guarda da guarita cochila. Nos vidros dos ônibus que passam, rostos sem expressão olham pra fora, mas enxergam outras coisas, coisas que eu não enxergo.
A noite está boa, fresca, vazia, cheia, entediante.
Levanto e parto para outra caminhada. Parece que o corpo se recusa a ficar inerte por aqui e vai meio sem rumo, mas sabendo que precisará parar em um outro velho e mesmo ponto de ônibus. Ando e digito. Ando teclando, é um novo jeito de andar hoje em dia, e eu que já fui feliz por andar de um pé só.
Parece que meus passos se conduzem sós e os dedos substituem a boca, falando por teclas para olhos que substituem ouvidos. Estamos na era dos substitutos. Na era em que coisas que eram pra ter uma função começam a aderir a outras funções. Não, não reclamo e nem condeno, apenas acho interessante. Nas conversas de chat costumo rir quando leio “pode falar?” “deixa eu lhe contar uma coisa” desculpa, acho que você não está afim de me ouvir desabafando, né” e tudo isso fazemos de boca fechada, sentados, ouvindo qualquer coisa menos a voz da pessoa do outro lado, sentindo qualquer coisa menos o calor humano na sua frente, olhando qualquer coisas menos um par de olhos, que em conversas feitas na realidade também tendem a dizer muitas coisas. Acho tudo isso muito divertido. Estranho. Quer dizer, pra mim é ótimo, me poupa o trabalho de disfarçar meus acanhamentos, minha vermelhidão facial, minha dificuldade em articular palavras, meu jeito patético de um cara retraído. Já falei que amo a tecnologia? Óh tecnologia, bendita sois vós entre pessoas da minha ralé, amém!
Aqui no mundo real, na rua, as coisas são diferentes. Aqui não tenho como disfarçar para mim minhas crises. Não tenho abas por onde fugir. Não consigo mandar meus olhos ficarem quietos e pararem de observar o mundo a minha volta. Não consigo parar meus pensamentos e minha consciência que me apontam minhas limitações interpessoais e todas minhas dificuldades reais. Aqui não consigo fazer metade do que sou capaz no mundo virtual. Mas também não reclamo. Eu amo minhas crises. Temos um certo xodó um pelo outro. Quem não tem crises vive apenas de teoria, achismos. Quem não tem crises nunca sentiu na pele, não tem marcas, não carrega consigo uma experiência por mais mínima que seja. Quem não tem crises nunca olhou de verdade pra si mesmo, nunca se confrontou, nunca questionou suas verdades, nunca se fez as perguntas certas. Quem não tem crises é um ignorante com vida e que também tem o direito de andar por ai. Quem não tem crises é feliz pra caramba e nem sabe! Sim, às vezes eu desejo ser um grande ignorante, alienado, que passa pela vida sem questionar nada a sua volta e vive segundo os preceitos do que é ditado e imposto por terceiros. O conhecimento às vezes é uma droga! Acredite.."


Ellion Montino
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Futuro Do Presente

Meus pensamentos estão dominados pelo amanhã
É no futuro que penso e é do futuro que vivo
E eu não apenas vivo, eu improviso
E é do improvável que tudo procede
São das perfeições e imperfeições que a vida acontece

O futuro que sei é o que quero saber
Porque os segredos do amanhã talvez não me agradem tanto
Aí está o porquê do presente
Não há segredo, não há hipótese
Apenas há

Um presente ex-futuro
Dúvidas e expectativas resultam na precisão
Por que existe tempo?
Não há presente sem futuro
E não há futuro sem quem o imagine

Diego Luque
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São tantos sentimentos...

...Misturados que de repente me some a vontade de escrever. Li num livro outro dia que a escrita de uma pessoa entrega muito do psicológico dela. Assumo que deu medo de ler os textos que eu já escrevi. 
Lembro que quando eu era pequena costumava passar bastante tempo sozinha, lendo ou escrevendo, criando coisas, desenhando, ouvindo músicas, isolada num mundo meu e que me permitia ser quem eu era (Quem eu ainda sou). Hoje eu faço isso raramente, porque me falta tempo, me falta talento, me falta silêncio,  me sonhar. Sempre dei prioridade para o que alguém pode me fazer sentir, para o que alguém pode me ensinar da vida e isso ficou claro nos meus textos. Preciso voltar a aprender com a Bruna, aquela que adorava uma novidade, uma invenção, uma surpresa boa. 
Agora quero ler meus textos e enxergar uma escritora legal e não só essa  escritora cheia de cicatrizes.

BRUNA NUNES
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Quando me sobram sentidos

Eu sinto saudade
Eu fico, eu vivo sentindo a sua saudade...
De nós, da voz
Saudade da gente
Saudade do "sempre"
Eu vivo sentindo a sua saudade
Eu sinto tanto...
Eu sinto muito...
Mas, as vezes, penso que não sinto mais nada
e vem você, como aquele sopro na ferida que faz todo ardido passar.
Eu fico me perdendo
e você trazendo a sensação de que nunca me perdi.

Sinto a respiração vazar e não voltar
e consigo ver você sorrindo, dizendo "para de besteira".

Penso no gesto de suas mãos
suas gesticulações
expressões
seu olhar...

Sinto que eu tenho o tamanho do seu peito,
Sinto que eu caibo perfeitamente no seu colo
Sinto que sua alma é enorme a ponto de eu pensar que nunca seria capaz de amá-la o suficiente...


Ellion Montino
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Adolescente Também Ama

Minha adolescência foi marcada pelo impulso das emoções. Naquele vai-e-vem de pessoas uma sempre ficava. Mas essas paixões não passavam de duas semanas, o que transformavam meu coração numa espécie de camping para nômades. Era assim que funcionava comigo. Então me surpreendia com uma paixão de meses. E isso me deixava confuso. Será amor? A palavra amor soava engraçada vinda de um adolescente impulsivo.

O meu primeiro contato com o sexo oposto, pelo menos era isso que eu achava, esse sim foi uma paixão, no mínimo, convincente. O modo como eu a olhava era esmagador, mas o jeito como ela me observava era simplesmente ENCANTADOR! O sorriso dela era lindo. Possuía um brilho fantástico! É claro que o brilho era a luz do sol refletindo em seu aparelho. E o que mais me fascinava nela era aquela arcada dentária toda colorida, pois ela trocava aqueles “elastiquinhos” todos os dias.

E como você já deve ter percebido, sim, eu a seguia em todos os seus passos. E que andar magnífico! O seu quadril mexia de um lado para o outro, com uma leveza, deixando meus olhos zonzos. E antes que vocês me julguem, eu não era safado. Quero deixar bem claro que, antes de ser adolescente eu sou um homem e nunca vou abandonar as coisas de minha natureza.

Nas aulas de informática eu sentava no computador na sua frente para que eu pudesse vê-la a todo instante. Muitas vezes tentei declarar-me para ela. Eu treinava muito em casa. Escrevia todas as minhas falas, decorava, e depois eu recitava em frente ao espelho. Deixava o espelho todo manchado porque até o beijo eu ensaiava. Mas, quando eu ia, finalmente me declarar, o máximo que saia era: quer chiclete? O que me fazia gastar 30 por cento da minha mesada só com chiclete.

Certa vez, eu acordei com um ar de homem corajoso e fui encontrar-me com ela. E ainda queria fazer melhor, queria dizer tudo de improviso. Então peguei minhas anotações para rasgá-las, mas antes de fazê-lo eu dei mais uma olhadinha. Parti em retirada atrás de minha amada. Procurei em toda parte em que costumava ir. Enfim a encontrei. Linda, perfumada e... o que? Acompanhada?

Meus olhos não acreditaram no que estavam vendo. Apenas encheram-se de lágrimas. Preferi não tê-la procurado, senti-me traído. Tudo bem que nunca tivemos nada, mas eu achava que o chiclete tinha nos aproximado. Mas eu me senti traído porque era eu quem a seguia, era eu quem a admirava todos os dias, era eu quem tinha com ela falado, até sinto que era eu quem a amava. Já tinha preparado um poema, flores, fiz um desenho, até mesmo aprendi uma música no violão pra tocar a ela.


Mas, esse “relacionamento” foi bom pra mim. Além de aprender que não devo gastar mais chiclete com garotas, aprendi muitas outras coisas... Até mesmo a certeza de que, mesmo com tudo o que aconteceu, quando aparecer minha nova paixão, farei, tudo o que fiz, novamente.

Diego Luque
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Eu, você, e como deveria ser

Mensagem de madrugada dizendo que não consegue dormir, pois só pensa em mim. Uma flor e um bilhete em cima da mesa escrito: te espero do lado de fora assim que amanhecer. Ansiedade, borboletas no estômago, suor frio, esperando pelo momento em que vamos nos encontrar. A luz do celular acende mais uma vez: “não espero a hora de poder te ver”. Passam as horas, mas o momento não chega. Mensagem no facebook: “Olha essa música ela me lembra você”. 19 horas, ele chega em casa. Dá um abraço na minha mãe, tem uma boa conversa com meu pai, e ainda dá tempo de uma partida de video-game com meu irmão. Nós damos um longo suspiro. Ele me acolhe em seus abraços e beija minha cabeça. Nossas mãos se entrelaçam e nós entramos no carro. Brigamos por qual música vamos escutar até que achamos uma que ambos gostam. É a música que representa nosso relacionamento e ficamos sorrindo feito bobos até o último segundo da música. Dessa vez resolvemos ir a um restaurante diferente que você encontrou um dia desses, já que da última vez fomos ao cinema assistir ao filme de romance que você não suporta, dizendo que é muito clichê. Nós jantamos enquanto conversamos sobre como foi nosso dia. Eu escrevo algo no guardanapo e você fica tentando puxar, mas eu escondo rapidamente. Você faz um beicinho, e eu mostro a língua enquanto guardo esse papel para mais tarde. Nós acabamos a refeição e eu vou abrindo a carteira mas você trava uma briga comigo para que eu não pague nada, como sempre. Enquanto você está no caixa, eu guardo o papel na sua carteira, para você ver mais na tarde. Na volta pra casa, você segura minha mão enquanto dirige e ficamos assim até o destino. O abraço na frente do portão é eterno. “Fica mais um pouco”. Eu digo sussurrando. Mas já está tarde e meu pai está esperando acordado. Você me dá um leve beijo e fica esperando eu entrar em casa para ir embora. Da janela, eu te vejo dar partida no carro, e mais uma vez a luz do meu celular acende: “Já estou com saudades, eu te amo minha princesa. Até amanhã, bons sonhos”. Eu vou para o meu quarto, e o tempo exato em que troquei de roupa, você me liga, só para ouvir minha voz mais uma vez. E assim o dia acaba, e eu durmo feliz.

Andressa Oliveira
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De Todas Promessas... Falhas

As pastas de dentes prometem dentes mais brancos. Os enxaguantes bucais prometem hálito mais fresco. Dietas prometem emagrecimento. Colchões ortopédicos prometem sonos melhores. Bons salários prometem segurança. Casais prometem se amar até a morte. Pais prometem proteção. Filhos prometem não se perder. Escolas prometem educação. Hospitais prometem saúde. Cursos superiores prometem bons empregos. Políticos prometem honestidade. Revistas de beleza prometem te deixar melhor. Televisão promete entretenimento. Amigos prometem não falhar de novo. Governos prometem melhorias e evoluções. Homens prometem o mundo. Mulheres, o amor verdadeiro. Publicitários prometem a verdade. Psicólogos prometem o sentido. Mudanças prometem o renovo. Os culpados prometem não fazer de novo. A droga promete a viagem. A bebida promete alegria. Puritanos prometem a pureza. Gulosos prometem cuidar do colesterol. Os lascivos prometem que é só na imaginação. Nossas causas prometem ser justas. O futuro promete ser largo. Salário mínimo promete ser suficiente. Nossas escolhas prometem ser certas. Nossa bandeira promete ordem e progresso. O povo promete fazer valer. O materialismo promete tapar os buracos da alma. Nossos desejos prometem se saciar, algum dia. E eu também permaneço de dedos cruzados.

Ellion Montino
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Mato Até Mil

A princípio, seria apenas mais um dia normal como todos os dias que já vivi até aqui. O meu dia não impressiona ninguém e também não interessa a ninguém. Inclusive a mim. Viver hoje aquilo que eu vivi ontem me faz prever que meu futuro não será tão animador. Espero pelo menos que quando terminar esse meu curso, que ainda faltam três anos, o trajeto para o meu trabalho seja um pouco menor do que esse que faço para a faculdade.

E não estou aqui para narrar para você o meu sofrimento de todos os dias, venho narrar que a minha vida é sofrida. Eu sofro até quando estou feliz, mas a pior coisa do mundo é quando estou sofrendo. Nada resolve essa minha vida. Algumas pessoas me indicaram alguns lugares para que eu pudesse me consultar e assim tentar resolver esses meus problemas. Confesso que não me animei muito a ir, mas a pressão vinha de todos os lados, então cedi.

Minha primeira consulta foi com uma velhinha que sentou ao meu lado no metrô. Eu estava indo para o psicólogo e durante o trajeto veio essa senhora, daquelas bem idosas, mas que ainda andam de metrô, e que gostam muito de conversar. Essa senhora sentou ao meu lado e quando me deu “Bom dia!” eu não via a hora de ela dizer “tchau”. Com todo respeito a ela, mas que insuportável. O dia ainda estava começando e as palavras ainda não processavam em mim, mas aquela senhora parecia que não havia falado um dia inteiro e começou a falar tudo pra mim.

Ela me disse que não gostava da minha cara, e eu não gostava do fato de ela não parar de falar, mas em nenhum momento me manifestei. Essa senhora, dona Dirce, disse-me algumas coisas e me perguntou muitas coisas. Primeiro ela quis saber se eu estava bem, disse que sim, claro, todo mundo diz que está bem. Dona Dirce olhou bem nos meus olhos e me disse: “não, você não está bem”. A pessoa acorda, resolve sair vagando pela vida, entra em um metrô, senta ao meu lado, começa a conversar comigo e ainda quer contrariar aquilo que disse a ela? Isso é um desaforo. Eu reforcei: “estou bem sim!” Mas dona Dirce continuava me provando o contrário.

Cara, eu menti em dizer que estava bem, mas achei que ela aceitaria numa boa o meu argumento, mas não. Naquele momento nós dois sabíamos que eu não estava bem, mas eu não deixaria uma senhora de uns setenta anos me contrariar. Dona Dirce já estava me incomodando com tantas indagações. Seguimos a viagem e ela seguiu me enchendo.

A cada estação eu torcia para ela descer, mas não havia fanatismo na minha torcida e a velha não descia. Comecei a pensar na possibilidade de eu descer em qualquer estação, e depois eu me virava pra chegar no psicólogo, mas adivinha quem me segurava? Ela sim. Dona Dirce me disse que eu precisava de sexo. Mal sabia ela que eu sou virgem. Tentava cortar esses tipos de assuntos, até porque é constrangedor uma senhora vir falar de sexo comigo.

Dona Dirce era persistente. Falava e falava e me incomodava e - aaaah Dona Dirce. Chega! – Não aguentava mais. Estava muito irritado. E por isso que sempre digo que não é bom andar armado. No velório dela, todos estavam chorando e se perguntando o porquê de alguém tirar a vida de uma senhora tão meiga, agradável e conversadora.


Eu fui preso. É, meus amigos, matei uma senhora e fui preso. Na cadeia, colocaram-me junto com um senhor de uns 55 anos que tinha sido preso por roubar milhares pessoas de sua cidade. Com certeza estou falando do prefeito desse lugar. Esse homem não parava de falar. Sério! Nada calava a boca daquele ser. A não ser...

Diego Luque
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Eco do que eu não disse

Acredito que lá no inicio do mundo alguém jogou fora o manual da amizade, rasgaram ou tacaram fogo nas regras de uma boa parceria e nunca mais conseguiram retoma-lo ou criar algo tão semelhante. Sim, somo falhos e não devo julgar o seu pecado pelo meu, mas é por isso que a amizade é algo tão delicado, requer tanto zelo e certa preocupação. 
Hoje eu quero dizer que o amor comete sim os seus erros, trava suas batalhas e muitas vezes exige que haja perdão e muito Super Bonder, mas outras vezes nada disso adianta e é preciso tempo para a ferida diminuir de um lado e tempo para que haja compreensão do erro por parte de quem errou.
Apesar de tudo o que eu falei, ainda ecoa dentro de mim tudo o que ficou preso na minha garganta.

Hoje eu só quero o silêncio da minha companhia e deixar morrer aos poucos o eco das palavras que eu não disse.

Bruna Nunes
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Seu nome

São 10 horas e eu não sei o que fazer.
Onde você está? Como fui me perder.
Os anos se passaram e tudo estava bem.
Agora me pergunto “ele quem?”
Mas ainda sei o seu nome, 

não me esqueci do seu telefone.
Ainda sei chegar na sua rua, 

aquela com a visão mais linda da lua.
A dúvida que sempre existiu,
era o que depois aconteceria.
Mas há algum tempo você partiu,
mesmo achando que ficaria.
Eu não sei mais o que você faz, 

e aquilo que te irrita mais.
Mas ainda sei chegar na sua rua, 

com a pergunta se ainda serei sua.

Andressa Oliveira
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Brilhe

E então eu parei pra pensar na sua arte de ser você, na sua incrível voz que deixa todas as outras sem som, nas suas aparições lindas e tortas, quase sempre desaparecendo, e deixando um rastro que só você saberia deixar.. E só eu, assim como quem não quer nada, poderia seguir..
Acontece que estive apaixonada por você uma ou duas semanas, quem sabe três..
E vivia imaginando cenas sobre você, te encontrar por acaso no metrô era uma das minhas preferidas, e tô pra te dizer, que esse papo de que o universo conspira a nosso favor é furada, pois pelo tanto que pensei e torci, teríamos agora uma lista de mil encontros nessa vida..
Fui até o lugar que ficamos pela primeira vez, e juro que até sentia sua presença, olhava pros lados pra achar uma camisa xadrez, não é possível, dessa vez você viria...
Não aguentei só imaginar, poeta vive de sentir, e era só o que eu queria.. sentir seu cabelo, meio grandinho, aquela parte que fica perto do pescoço, e ficar com a mão ali, sentir tudo que é você, suas piadas e risadas de quem ao contrário de mim, não quer sentir nada, e mesmo assim me deixa atenta a cada detalhe seu.
Estive atenta a cada parte sua, e eu te confesso meu bem, você ainda vai brilhar tanto, que eu ficarei feliz de um dia ter te visto brilhar tão de perto, e antes de tanta gente..
Brilhe o quanto puder, brilhe por aquele cantinho que me fez te achar um dia, brilhe pelos textos que fiz por você, pela música que cantei pra você, pelo desencontros, pelas desculpas, pelas bebidas que sempre te deixam tão romântico..
Deixe seus olhinhos claros brilharem, e eu sempre vou te assistir, de perto, de longe, e um dia, da primeira fileira de algum lugar por aí...



Thaynara Romero
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Pra não dizer que flores não falam - Último Ato

“Todo homem nasce livre e por toda parte está acorrentado”– Rousseau

- ... e foi isso o que aconteceu! – ele disse olhando sério para ela.

Era um homem bem vestido. Trajava um terno bem alinhado, azul marinho. Camiseta branca e uma gravata preta. Alto, um porte atlético. Dentes muito brancos. Os olhos bem escuros, um sorriso de frustração momentânea. Seu perfume era agradável.

- E onde estamos agora?

- Aqui é a ante-sala do seu quarto.

- E no caso você é mesmo a... a...

- Morte?

- Isso.

- Mas você é um homem... (e tão sedutor...) – isso ela apenas pensou.

- Obrigado pelo sedutor, hahaha... – Dália o olhou com espanto – Nada de foices ou capas pretas, caveiras, crucifixos. Isso foi invenção de vocês.

- ...! Isso é muito surreal. Não pode ser verdade. Portello me drogou. Você é um dos capangas. – Tentou levantar, mas não conseguiu.

Um enfermeiro vinha pelo corredor que dava naquela ante-sala. Deixou a luz apagada. Sentou numa cadeira do canto para tomar um comprimido que carregava no bolso.

- Ei, moço...! – Ela disse. – Moço!!! – conseguiu gesticular os braços.

- Ele não vai te ouvir e nem ver, Dália. Olhos e ouvidos humanos estão ajustados para ver outro tipo de freqüência.

- Do que você ta falando?

- Explico outra hora. Ele se chama Marcos. É seu enfermeiro.

- Meu enfermeiro?

- Ainda não notou que estamos num hospital, Dália?

- Mas eu não estou... morta?

- Infelizmente não. Você é difícil. Viveu me iludindo e brincando comigo. Tenho esperado pra te buscar, mas você sempre dá um jeito de me fazer esperar mais.

- Se você é a Morte e eu vejo você, mas não morri, então o que aconteceu??? Porque ele não pode me ver?

Marcos ingeriu uma pílula a mais. Levantou e caminhou até o quarto de Dália.
- Você não lembra de nada? – Morte se levantou e permaneceu parado, de costas para ela com as mãos dentro do bolso da calça.

- A última coisa que me lembro é de apontar uma arma para o Portello e de ver o... meu deus... o que aconteceu com o Eduardo?

Morte se virou sério. Estendeu a mão esquerda que continha um pequeno relógio de bolso dourado. Abriu a tampa.

- Quer lembrar?

- ... quero!

- Volte o ponteiro menor duas vezes.

Ela o fez. Morte agora estava sentado numa mureta, aplaudindo.

- A melhor parte está chegando, Dália. Reconhece a cena?

- Hahahaha... garoto? Que sorte a minha e que petulância a sua, hein. Não imaginei que iria te encontrar tão cedo. O que é? Dália fugiu? Hahahaha... ela é quente, não é, garoto? Não imaginei que ela fosse te contar onde vive e trabalha. Você a expulsou de casa e veio pedir desculpas?

- Você viu tudo isso acontecer e não fez nada? – Dália perguntou. Ela estava em pé ao lado de Morte. Seus gestos eram impacientes – VOCÊ NÃO FEZ NADA???

- Silêncio. Eu amo as tramas de vocês, o jeito como vocês se definham. Buscá-los é sempre uma inspiração. Eu não sou ruim, vocês que aprenderam a me dar um valor moral. Agora preste atenção.

- Eu não sei se consigo errar um tiro como você, viu. – engatilhou.

- Não, Portello!

- Você é mesmo encantadora, não acha, Dália? – Morte dizia em tom de quem pensa alto. Dália permaneceu calada. Levou uma das mãos a boca.

- Sabia que você voltaria para mim. O que temos é verdadeiro. E eu já te perdoei de tudo.

- Abaixa a arma, Portello.

- Sem caridade hoje, Rainha. Tô sabendo que ele te tratou mal e você lembra o que ele fez hoje...

- Eu não tinha planejado nada disso! Não queria envolver ninguém... – Dália falava como súplica. – O que o Eduardo está fazendo ali?

- É isso que torna tudo mais interessante, Dália. Vocês esquecem que tudo o que fazem funciona como um emaranhado de linhas. Vocês vivem se conectando com outras realidades e outras pessoas. Inserem e retiram personagens da própria história. Por isso meu trabalho nunca é monótono e por isso a vida nunca é certinha. Não é a vida que os surpreendem, são vocês que não se dão conta desse todo. Agora veja...ta chegando a minha parte predileta de todo fim...

- Vocês dois estão juntos nisso??? Pra cima de mim, Rainha? Depois de tudo o que fiz por você? E nossa história? Hahahaha... Garoto, eu não sei se acabo com você ou com ela primeiro. Quer escolher?

- É só abaixar a arma, Portello.

- Hahahahaha... Vocês estão dando a melhor noite da minha vida!

Portello apontava a arma para Eduardo. O capanga mirava na cabeça de Dália e Dália erguia lentamente a arma em direção a cabeça de Portello.

- Então, Portello, porque não dispensa seu gorila, deixa a menina em paz e a gente resolve isso só entre nós? Pode continuar armado, mas é bom não errar o tiro. – Eduardo disse com calma, as mãos ainda no bolso.

- Viu Dália. Ele é mesmo um cavalheiro. Pena que você é uma rodada. – abaixou a voz em tom de cochicho e disse: Ela é muito rodada rapaz.

- Portello, diz isso olhando na minha cara!!! Quero ouvir você dizer isso e todas as outras coisas que você adora dizer. Quero olhar essa sua cara nojenta uma última vez.

Portello riu, deu uma olhada para o capanga que entendeu o recado e apontou a arma para as costas de Eduardo.

- Um movimento em falso e você nem vai saber que morreu! – disse o tal gorila.

Eduardo ergueu os braços como quem se rende e sorria de sarcasmo. Uma viatura da polícia chegou. Ceará havia acionado e delatado, informando o incidente no bar e o destino do suspeito. Um dos PM´s saltou do carro com a arma em punho sem saber para quem apontar.

- Todo mundo parado!!! – Ordenou.

Portello encarava os olhos de Dália que apontava a arma para o seu rosto. Dentro daqueles olhos castanhos claros havia uma faísca que teimava em não apagar. Dentro daquele olhar de ressaca habitava uma insistência em acreditar numa esperança débil e melindrosa. Portello não conseguiu conter a gargalhada.

- Isso está ficando cada vez melhor, não acha sua puta nojen... – Portello foi interrompido por um disparo saído de mau jeito, mas que varou sua testa.

Mais dois disparos se ouviu: O capanga voltou a arma na direção de Dália e atirou e logo caiu atingido pelo disparo do policial. Dália estava no chão, de olhos abertos, mas vendo a vista escurecer. O tiro havia atingido uma parte de sua cabeça.

O movimento dentro da casa se voltou para fora. Mulheres e homens saíam desesperados. Aproveitando a deixa de pessoas movidas por seus medos atrapalhando o controle policial do local, Eduardo correu para o corpo de Dália, caído e desacordado, se agachou, pegou a arma do avô e correu de volta no sentido da casa onde havia mais gente e pôde sumir sem ter muito trabalho. Foi rápido e frio.

Margarida foi a última a sair da casa e a reconhecer o corpo da filha estendido na calçada. Ficou agachada, em choque, chorando um arrependimento tardio.

...

- Por isso você está aqui. Lembrou agora? – Perguntou Morte. Os dois agora estavam de volta nas cadeiras da ante-sala.

- Meu deus...!!! Mas eu ainda não entendi o que eu sou agora...

- Venha, eu vou te mostrar.

Morte levantou, estendeu a mão para Dália e a levantou da cadeira. Como um cavalheiro conduziu Dália até o quarto de braços dados. Dália viu sua mãe numa poltrona ao lado, dormindo debruçada na cama da filha. Dália estava entubada, fios se conectavam ao seu dedo e em parte do crânio.

- Você está em coma, Dália. Está viva e morta. Não posso te levar e não sei se você voltará ao corpo. – Morte sorriu um sorriso cínico e continuou – Odeio que me torturem assim.

- E agora? Eu estou presa aqui?

- Digamos que sim. A parte boa, Dália, é que agora eu tenho uma companhia.

- Eu não quero! Eu quero voltar...

- Agora decidiu viver?

- Me coloca de volta!!!

- Hmmmm... não! Primeiro que não posso, e segundo que mesmo se pudesse eu não o faria. Meu prazer não está em dar vida.

A porta do elevador abriu. Outro enfermeiro chegou. Entrou no quarto, cochichou algo com Marcos e colocou um envelope grosso, de tamanho A4 nas mãos dele. Marcos olhou, sentiu vontade de abrir, mas não podia. O pacote tinha uma destinatária. Ele colocou no balcão ao lado da cama de Dália.

- O que é aquilo? – Ela perguntou para Morte.

- Será mais interessante você ir ver do que eu te contar.

Dália se aproximou. No pacote estava escrito:

PRA NÃO DIZER QUE FLORES NÃO FALAM

A/C DÁLIA

ASS: EDUARDO

- Eu não consigo pegar!!! – disse ela tentando agarrar o pacote.

- Não me diga! Hahaha...

- Que raiva!!! O que é isso? O que tem dentro?

- Você não soube, mas Eduardo trabalha numa editora. Ele também escreve.

- E...?

- Ele leu o caderno que você deixou na casa. Transformou seu caderno e sua parede num livro. Digitou, editou e diagramou tudo. Será publicado em breve. No pacote contém o original com os documentos do registro.

Dália arregalou os olhos e permaneceu parada olhando o pacote. Sorriu. Queria sentir a textura do seu sonho concretizado. Deu uma risada tímida ao lembrar-se de uma das frases que escreveu na parede do quarto da mãe, quando tinha 15 anos, com lápis de escrever:

“sonhos parecem com nuvens, se formam, se movimentam, acumulam matéria, pingam, desaparecem, são concretos, existem, mas são impossíveis de segurar nas mãos.”

                 - Eu vou voltar pra vida, quando descobrir como se faz isso.


                - Espero que não! – Morte riu saindo do quarto.



Ellion Montino

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