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Isso não é uma história, são só palavras

"Isso não é um cachimbo", René Magritte.

1808 foi ontem. Pouco mais de 200 anos se passaram. Éramos um país de analfabetos. Há pesquisadores que apontam, sem medo: 99% não viam nas letras nada além de curvas e traços.
Hoje, difícil seria para você, que lê, repensar sua relação com as palavras. Propor a si mesmo enxergar apenas os traços e contornos de cada letra.
Palavras são histórias. Transcendem a tinta, a tela e o traço. O que eu escrever, farei você enxergar. Posso guiar teus olhos para ver além do que é tangível ou palpável.
Dizia isto, pois estava perto de seu fim; e ele insistia que o narrador não era o autor. O texto era o autorretrato de um autorretrato, nada parecido com a história de Doran Gray. Aliás, cinza era sua cor preferida.
Olhava os girassóis e tentava descolorir a imagem em seu pensamento. É possível descolorir girassóis no pensamento? (Ei, pare de tentar! Assim você confirma a tese dita: o escritor guia os olhos do leitor para além de uma tela de computador).
As asas de um avião eram postas no chão para que ao deitar-se entre elas fosse lembrado como um anjo pós-moderno. 
Com palavras as colagens são mais perfeitas do que com ilustrações vazias de subjetividade. Ou seria possível ilustrar um silêncio que penetra à alma pelo centro do peito como um fio de cabelo tênue e tão firme que fura sem ser visto - como uma agulha flexível? Há uma palavra para isso: angústia. Entende?
De pensar que existem pessoas neste mundo imenso que pensam que no Brasil andamos nus, na companhia da fauna local. Mal sabem que estamos nos empenhando em destruir florestas, assistir seriados em inglês, consumindo traduções de literaturas de massa e muito fastfood...
Evoluímos muito em 200 anos. Até criei um texto surrealista. 

Luiz Henrique, Carapicuíba-SP
01/04/2014

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