Era uma
daquelas lanchonetes em que o salgado é muito barato e o suco tem aquele sabor
de água doce com alguma coisa.
O
movimento não ia bem. Tava meio fraco. Talvez fosse o horário. Éramos em quatro
ali, quietos. Trazíamos no rosto alguma forma de derrota e sabíamos disso.
Cada
um vive sua guerra e sobrevive como pode. Uns se refugiam em casa, internet,
música alta, livros, transas, assaltos, lanchonetes, religião. O objetivo final é comum a
todos nós, permanecer vivo de alguma forma.
Naqueles bancos
giratórios buscávamos, um no outro, a vontade de preencher mais que o vazio da
fome.
Reconhecer que provavelmente estavam tão ferrados quanto eu era uma forma
de alívio. No sofrimento alheio nos damos conta que não estamos sozinhos no
mundo, mesmo que não tenhamos pra quem voltar no fim do dia. O silêncio era
cruel. O vazio também. Tínhamos expressões graves. Estávamos cansados de ser
comidos vivos pela vida.
Entre
moscas e mordidas sentíamos a sensação de vitória por trucidar, nesse
intervalo, alguma coisa que não fosse nossas vísceras.
Eramos
cruéis com as esfirras e coxinhas da mesma forma que aquilo que habitava o lado
de fora da lanchonete era com a gente.
Eu ainda
estava mastigando, "ainda estou vivo", pensei. Estava menos lascado
que o animal que morreu pra me alimentar. A diferença é que agora ele
descansava em paz, enquanto minhas olheiras denunciavam a insônia maldita
dessas semanas.
Ellion Montino
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