Era uma segunda-feira normal de
aula. A professora entrou na sala como todas as outras segundas. Cabelo preso,
óculos lilás no rosto, livros nas mãos, a caixinha de giz sobre eles e uma
pasta vermelha sob os livros. Ela era a professora mais linda do mundo, mas a
cara dela não estava agradável. Ninguém sabia o que era. Ela simplesmente entrou
na sala, deu o seu “Bom dia!”, e sentou. Geralmente ela deixava a gente
conversar nos 5 primeiros minutos da aula e depois pedia pra nos aquietarmos e
assim começar sua aula. Naquele dia foi diferente. Nós sentimos que ela estava
meio chateada e com a gente. Por isso nem esperamos que ela pedisse que nos
acalmássemos, ficamos quietos assim que ela sentou.
Ela estava brava, mas com um tom
tranquilo nos dirigiu a palavra:
- Maturidade. É preciso
maturidade quando se fala sobre estudos. Vocês já não são crianças, mas não
estão levando a sério os estudos. E essas notas? Que notas foram essas? Alguém
sabe me explicar o porquê de notas tão baixas?
Sem muito entender um amigo de
sala perguntou:
- Professora, não sabemos do que
a senhora está falando. Nem sabemos nossa nota. Como vamos explicar o porquê de
tão baixas? E eu duvido que elas estejam baixas.
E esse meu amigo tinha razão. As notas
da nossa sala sempre foram as melhores. Nós não estávamos entendendo. Ficamos
até com medo do assunto. Nota baixa? Não pode ser. Todo mundo ficou desesperado
e já ficamos com medo de não passarmos no vestibular. E a professora estava
estranha, disso também estávamos com medo. Ela sempre gostou da gente. Nunca demos
um deslize. Não seria possível que a turma toda, junta, traria um problema tão
grande àquela professora que a deixasse furiosa conosco.
Estávamos ali. O terceiro A. A
sala que sempre foi exemplo no colégio inteiro recebendo um grande sermão por
causa de notas baixas. Todo mundo aflito e a professora continuou brigando com
a gente. A fala dela estava diferente, meio falha. E ela caminhava de um canto
para o outro como nunca antes fizera. Começamos a pensar que ela estava louca,
drogada, sei lá. Mas estava muito estranha. Ficamos nessa dúvida, normal,
anormal, até o momento em que ela, muito convicta, subiu em cima da mesa e
pulou em direção à porta, que estava aberta, e bateu com a cabeça no trinco.
Ela caiu desacordada no chão e
ficou lá por oito segundos e nós estagnados em nossas cadeiras bem surpresos. Ela
se levantou, puxou sua cadeira e sentou com a mão na cabeça como se estivesse
com dor. Ela olhou pra gente, agora já parecia normal, e falou:
- Minha cabeça está doendo. Acho que
vou embora terceiro B.
Terceiro B? Mas a gente é do A.
Ali então percebemos a confusão que foi feita. A professora estava dopada,
confundiu as salas, xingou todo mundo, brigou com a gente, subiu em cima da
mesa, quase se matou, agora vai embora, mas pelo menos a nossa nota ainda está
a cima da média.
Diego Luque
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