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110 anos - Rascunho


RASCUNHOS DE UMA FICÇÃO:

E se...  As alternativas são armadilhas que te prendem ao passado. E essa história começa assim. 

Era domingo, como toda semana, de todo mês, de todo ano. Mas sempre levava a sensação de que podia ser diferente. Ora, diferente... Impossível alterar a ordem cósmica.

Mas encontros inesperados sempre acontecem. Inesperados para nós. Óbvios para o universo. Enquanto planeja-se uma ação, outros são impelidos a agir. Porque,  então, estariam sempre na mesma condução, mesmo em horários diferentes? Tudo bem que poucos trabalham aos domingos, mas não parecia lógico.

Os dois nasceram no mesmo dia 11 de abril de 1904. Os olhos, pretos, como estivessem dilatados. Um andar parecido, ele dificuldades com a perna esquerda, ela, com o joelho direito aos cacos. Mas isso só percebi depois do quinto desencontro entre os dois.

Ela subia com dificuldades no coletivo, fazendo o operador esperar por quase 4 minutos. Quatro paradas à frente, ele subia e demorava outros 4 minutos. Ninguém reclamava. Afinal, era domingo. Aos domingos, tudo fica mais demorado.

Ela descia primeiro. Jamais trocaria olhares com outro passageiro, pois os olhos fitavam, com uma fé inabalável, o próximo degrau. Ele fingia ser indiferente a tudo e a todos; aprendera que homem tem de ser sisudo, sério, e até mau, se preciso for.

Seus pais se conheceram na maternidade, no dia em que seus filhos vieram ao mundo. Um mundo que, até então, não amanhecera em guerra.

Tantos anos depois, pareciam estar condenados à vida, porquanto ignoravam o destino que lhes fora imposto. E se o encontro acontecesse, enfim, morreriam?!

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