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Mato Até Mil

A princípio, seria apenas mais um dia normal como todos os dias que já vivi até aqui. O meu dia não impressiona ninguém e também não interessa a ninguém. Inclusive a mim. Viver hoje aquilo que eu vivi ontem me faz prever que meu futuro não será tão animador. Espero pelo menos que quando terminar esse meu curso, que ainda faltam três anos, o trajeto para o meu trabalho seja um pouco menor do que esse que faço para a faculdade.

E não estou aqui para narrar para você o meu sofrimento de todos os dias, venho narrar que a minha vida é sofrida. Eu sofro até quando estou feliz, mas a pior coisa do mundo é quando estou sofrendo. Nada resolve essa minha vida. Algumas pessoas me indicaram alguns lugares para que eu pudesse me consultar e assim tentar resolver esses meus problemas. Confesso que não me animei muito a ir, mas a pressão vinha de todos os lados, então cedi.

Minha primeira consulta foi com uma velhinha que sentou ao meu lado no metrô. Eu estava indo para o psicólogo e durante o trajeto veio essa senhora, daquelas bem idosas, mas que ainda andam de metrô, e que gostam muito de conversar. Essa senhora sentou ao meu lado e quando me deu “Bom dia!” eu não via a hora de ela dizer “tchau”. Com todo respeito a ela, mas que insuportável. O dia ainda estava começando e as palavras ainda não processavam em mim, mas aquela senhora parecia que não havia falado um dia inteiro e começou a falar tudo pra mim.

Ela me disse que não gostava da minha cara, e eu não gostava do fato de ela não parar de falar, mas em nenhum momento me manifestei. Essa senhora, dona Dirce, disse-me algumas coisas e me perguntou muitas coisas. Primeiro ela quis saber se eu estava bem, disse que sim, claro, todo mundo diz que está bem. Dona Dirce olhou bem nos meus olhos e me disse: “não, você não está bem”. A pessoa acorda, resolve sair vagando pela vida, entra em um metrô, senta ao meu lado, começa a conversar comigo e ainda quer contrariar aquilo que disse a ela? Isso é um desaforo. Eu reforcei: “estou bem sim!” Mas dona Dirce continuava me provando o contrário.

Cara, eu menti em dizer que estava bem, mas achei que ela aceitaria numa boa o meu argumento, mas não. Naquele momento nós dois sabíamos que eu não estava bem, mas eu não deixaria uma senhora de uns setenta anos me contrariar. Dona Dirce já estava me incomodando com tantas indagações. Seguimos a viagem e ela seguiu me enchendo.

A cada estação eu torcia para ela descer, mas não havia fanatismo na minha torcida e a velha não descia. Comecei a pensar na possibilidade de eu descer em qualquer estação, e depois eu me virava pra chegar no psicólogo, mas adivinha quem me segurava? Ela sim. Dona Dirce me disse que eu precisava de sexo. Mal sabia ela que eu sou virgem. Tentava cortar esses tipos de assuntos, até porque é constrangedor uma senhora vir falar de sexo comigo.

Dona Dirce era persistente. Falava e falava e me incomodava e - aaaah Dona Dirce. Chega! – Não aguentava mais. Estava muito irritado. E por isso que sempre digo que não é bom andar armado. No velório dela, todos estavam chorando e se perguntando o porquê de alguém tirar a vida de uma senhora tão meiga, agradável e conversadora.


Eu fui preso. É, meus amigos, matei uma senhora e fui preso. Na cadeia, colocaram-me junto com um senhor de uns 55 anos que tinha sido preso por roubar milhares pessoas de sua cidade. Com certeza estou falando do prefeito desse lugar. Esse homem não parava de falar. Sério! Nada calava a boca daquele ser. A não ser...

Diego Luque

Um comentário:

  1. Nunca te apresentarei minha avó! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    mto bom Luque!

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