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Fragmentos subliminares


Encosto a cabeça no travesseiro, meu quarto está escuro e o barulho ambiente se faz semelhante ao de uma ilha deserta, é o momento mais oportuno para a memória começar a fluir. O silêncio é denso, até posso senti-lo entrando pela janela, bem na frente da minha cama, o sono se atrasou, então as minhas lembranças chegam e se alojam prometendo demorar a partir, e uma batalha começa a ser travada dentro de mim. Respiro fundo, tento desviar meus pensamentos para o frio que sinto, mas é em vão.
Inevitavelmente as lembranças ficam mais fortes, das mais banais até as mais intensas, sem esquecer as tranquilas e perturbantes, das mais antigas até a rotina de hoje de manhã. Não lembro detalhadamente como cada uma é, parte dos meus pensamentos está oculto em meu subconsciente. Em muitos momentos me esforço para conseguir juntar cacos da minha infância, mas sei que nem tudo era bom, por não poder superar isso metade de mim é solitária.
Reflito sobre meus erros e o que aprendi com eles. Lembro do que sinto falta, como uma casa na árvore ou um almoço com a família reunida em um domingo, mas sei que nada disso vai voltar. Cada lembrança trás a tona uma especie de fragrância, como se cada época de minha vida tivesse um cheiro. Odores de suaves lembranças, de lugares e pessoas. Perfumes únicos e raros, do qual reconheço muito bem, de onde vieram e para onde me transportarão.
A opacidade de minhas lembranças terminam a ponto de me fazerem chorar, por não conseguir controlá-las, lágrimas doces de alegria se misturam com lágrimas amargas de ódio. Assim como alguém apaga com os pés um desenho na beira da praia, sinto também que algo está faltando. Não faço ideia do que seja, mas tenho a certeza que partes do meu passado ainda não foram reveladas, é frustante, mas tento entender o porquê de tudo, faíscas de memórias tão irracionais, me cansa saber que todos os dias antes de dormir é esta mesma novela, não me acostumo.
Mas a esperança me faz ter forças para esperar a peça chave perdida, que surgirá para montar o quebra-cabeça dos meus pensamentos.

Karen Lancerotti

Esse texto foi escrito em maio de 2012 que serviria para um projeto que viraria livro... Tive como ajuda os pensamentos de meu amigo Orlando Garcia.

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