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Morrer ou perder a vida?


Era semifinal da copa do mundo. Já era minha sexta do mundo, mas a primeira que assistiria no estádio. Foi no Brasil e naqueles 65.000 assentos cabiam todos os 200 milhões de brasileiros. Como eu nunca antes assistira a um jogo lá de dentro eu estava muito nervoso. Estava com a camiseta amarela da seleção brasileira, short azul, meião branco e chuteira, uma de cada cor e com a braceleira de capitão no braço esquerdo, porque sou canhoto. Meu cabelo estava verde e amarelo, meu rosto verde e amarelo, uma mão verde e a outra amarela. Até meus dentes estavam amarelados. Minha corneta na boca, pronta pra assoprar. Eu estava pronto pra torcer, mas não para sofrer.

O jogo começou e aos cinco minutos do primeiro tempo a nossa seleção levou um gol. Um a zero pro México. Eu quase morri! - Como assim levar um gol agora? - eu perguntei pros jogadores, mas não me deram bola, literalmente. Mas mesmo assim continuei torcendo e o Brasil foi pra cima. Eu dividia minha atenção pro campo e pro relógio, campo e relógio, campo e relógio. E o tempo ia passando, o primeiro tempo estava quase no fim, 44 minutos, quando derrepente, na entrada da área, Neymar é derrubado. Falta! Perfeita. Daquelas que ele não erra. Eu estava praticamente na metade do estádio, e lá de cima eu torcia e gritava pro Brasil. Era a nossa chance de marcar. O juiz apitou, Neymar estava autorizado e... Goooooooool! O Brasil empatou! Neymar é o gênio da bola parada. O estádio todo vibrava euforicamente. O placar estava igual e o juiz terminou o primeiro tempo.

Eu corri pra comprar um lanchinho. A fila estava enorme, mas não interessa, eu estava com fome. A fome era tanta que o tempo foi passando e eu nem percebi que demorei muito lá na fila. Quando estava pagando o meu lanche eu ouvi a torcida mexicana comemorando um gol. Comecinho do segundo tempo e de novo o nosso time estava atrás. Peguei meu lanche e voltei correndo para o meu lugar. Quando cheguei, comecei a comer e, infelizmente, vejo o árbitro marcando pênalti pro México. Nãaaaaaaao! Tremi. Meus braços tremeram, meu sanduíche caiu no chão. - Brasil vai perder e eu ainda com fome. - falei sem acreditar nas duas partes do que falei. O México estava autorizado a cobrar e cobrou, e fez, e eu chorei. México 3, Brasil 1 e ainda estávamos nos dez primeiros minutos do segundo tempo.

O Brasil não desistiu. Foi pra cima, com raça, com força, com tudo, com nada, com o pé, com a mão, com a cabeça, com tudo que podia. Graças a Deus, aos quinze minutos, a seleção diminuiu com Fred. O jogo estava 3 a 2. E a torcida gritava que o campeão voltou, mas a gente estava perdendo... que confiança! E a seleção ia pra cima. Chance atrás de chance. Gritos e mais gritos. O ambiente agora estava gostoso. Muitas chances, mas não estavam sendo bem aproveitadas e o tempo ia passando e o nosso desespero era enorme. Quarenta minutos do segundo tempo, nosso placar estava atrás e o tempo correndo atrás da gente e a gente correndo atrás do tempo. Mas o jogo estava pra matar a gente, o México não pegou na bola o segundo tempo quase que inteiro, mas agora, no finalzinho, eles resolvem vir pro ataque. Atacaram, atacaram mas pararam nas mãos do nosso goleiro que, aos 44 do segundo tempo, rapidamente arma uma jogada que pega a defesa mexicana desprevenida e Neymar sai na cara do gol e esse tipo de bola ele não erra. Brasil 3, México também 3. E sem acréscimo o árbitro leva a partida para a prorrogação.

Os jogadores estavam cansados, o árbitro estava ofegando e estava exausto. Não aguentava mais nem um minuto sequer. Mas a prorrogação começou. E o tempo voava. Em menos de cinco minutos o primeiro tempo de quinze minutos acabou. E logo veio o segundo que também voou. O jogo estava se encaminhando para os pênaltis e eu resolvi descer as arquibancadas do estádio pra ficar mais perto dos jogadores. O meu relógio estava marcando 13 minutos do segundo tempo e o México estava no ataque. Comecei a gritar o nome do nosso goleiro. Gritava bem alto. Mas algo aterrorizante aconteceu. Em um momento eu gritei muito alto o nome do Júlio César, ele olhou pra mim e nesse exato momento o atacante mexicano, oportunista, mandou pro gol. México na frente e classificado para a final. E o Brasil? E o Júlio César? E eu? Bem, eu corri pra casa. Prefiro perder a copa do mundo do que perder a vida.

Diego Luque

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