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Animal

Sem que o animal tivesse tempo para reagir, avançou e torceu o pescoço do bicho e não largou até sentir vazios os pulmões do animal. Ao lado, chorou sobre o corpo de sua criança morta por uma fera. Haviam sinais de luta, as mãos da pequena criança estavam machucadas, com muito sangue. 

Num instante de lucidez, percebera que havia uma faca na porta de um dos quartos. Sorriu em meio ao desespero, entendeu que o filho lutou pela vida, se armou, foi bravo. Levantou-se e foi em direção a porta.

Quando abaixou para pegar o objeto, seus olhos seguiram os rastros de sangue quarto adentro... Um par de botas enormes. Seguido por calças pretas e uma jaqueta escura. O cadáver também tinha os cabelos mal-cortados e as unhas enormes. 

Lembrou-se dos momentos em que o garoto e o bicho brincavam e sorriam. Sim, o animal sorria. Há na natureza uma pureza que perdemos com o tempo. Parece que a vida civilizada, moderna, ou como quiser chamar, nos rouba a alegria. Os bichos sempre nos lembram que a vida é pra viver, não só pra ganhar.

Entendeu.

O garoto havia sido vítima de outro bicho. Um homem. E ele matara um inocente. O pobre animal havia lutado para salvar sua criança, por isso estava também coberto de sangue. E ele, também um homem, feriu um ser sem que este pudesse se defender. Compreendeu ali que, ser humano, não era motivo de orgulho. Decidiu que devia morrer e fazer justiça, diminuir a humanidade. Com a mesma faca, cortou-se, esvaziando, enfim, seu corpo. Com os olhos prestes a fechar para sempre, viu sua criança abrir os olhos...
 
Luiz Henrique F. Cunha é professor e escritor
tem um blog http://luizhenrich.wordpress.com
Seu livro novo tem um site: http://historiade50metros.com

 

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