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Sobre culpados e a teoria do caos

Minha mãe vive dizendo que nada nessa vida acontece por acaso. Tudo no fim tem algum proveito, algum motivo. Nada é descartável, nem mesmo um bom dia ramelendo pro motorista do ônibus. É o mistério do cósmos, como ela gosta de se referir. Sabe, acho que ela tem razão.

Existe uma teoria que se encaixa perfeitamente nisso, é a Teoria do Caos, diz que um simples bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo. Já parou pra pensar nisso? Que qualquer ação feita agora, mesmo que mínima pode mudar drasticamente o fim do seu dia? E assim, conseqüentemente, a continuação da sua história, ou seja, seu futuro?! O fato de você escolher andar por uma calçada e não por outra; escolher aquele restaurante pra almoçar e não outro; aquela faculdade e não outra; o retorno pra pegar o celular que esqueceu; aquele ônibus que não parou pra você quando deu sinal; aquele ponto perdido por causa de um sono profundo no banco do ônibus; a saída com seus amigos naquela noite em que você queria ter ido pra casa... Enfim, estamos cercados constantemente pelas inúmeras possibilidades de alterar nossa história para sempre. Um movimento nunca é mínimo, nunca. Uma escolha nunca é nada de mais, acredite.

Qualquer mudança mínima no meu passado alteraria drasticamente meu hoje e meu futuro. E sabe o que é assustador? É que isso é uma constante, agora mesmo eu estou definindo o que virá nos dias depois de amanhã mesmo sem me dar conta disso.

O mistério do cosmos e todos os propósitos que estão contidos nisso. Céus, são muitos, são muitas vidas envolvidas nisso. Cada ser humano é uma personagem principal e figurante ao mesmo tempo. Eu atuo e sou mero detalhe de cena na mesma hora, porque na mesma hora e no mesmo espaço milhões de vidas acontecem naquele instante junto com a minha. Pensando assim, eu, sem querer ajudo o universo a conspirar contra ou a favor da vida de outras pessoas. E o que eu tenho haver com a vida dos outros? Detesto me sentir usado.

Esse papo todo me faz pensar muito nessa construção linear do tempo, essa coisa de passado, presente e futuro. E eu sempre fui da seguinte opinião: O FUTURO NÃO EXISTE!

Já ouvi dizer que sou um cético melancólico. Mas existe alguma inverdade em afirmar que o futuro não existe? Vamos, pense um pouco. Me diga, o que é o futuro se não uma projeção da nossa mente, uma expectativa da nossa alma, uma ilusão, uma construção irreal do que virá. Mas o futuro, o futuro não existe. Ele não é um fato, simplesmente, porque não aconteceu. Dizem que o futuro é o algo ali na frente. Mas na verdade sabe onde ele está? Apenas aqui dentro. Não é la e sim aqui e não, não é porque está “aqui” que ele exista. Quem garante que a vida vai nos levar pra onde queremos ir? Quem garante que o que você espera de fato vai acontecer? Não meu amigo, a vida não nos dá garantias de nada e muito menos o futuro até porque o futuro não existe. O que existe é esse instante agora e tudo o que idealizo dentro desse meu presente. E meus ideais... Meus ideais são tão inexistentes quanto o futuro! Existem apenas na minha cabeça.

Temos essa dificuldade do instante. O pensamento vive vagando e nos transportando para outros lugares constantemente. No ônibus estou no trabalho, no trabalho estou em casa, em casa estou na faculdade, na faculdade estou nas férias, nas férias estou...não, nas férias eu não estou.

É o que vejo enquanto ando, enquanto passo por aqui, uma maioria ancorada no depois, no tempo vindouro, no inexistente. É como se cada um se lançasse à vida, sofrendo a ânsia do futuro e o tédio do presente. Evitam olhar o que tem agora. Por quê? Será mesmo o tédio? Deixam para melhorar as relações, o que são e a própria vida quando terminarem a faculdade; quando conseguirem um bom emprego; a promoção; uma esposa; aquele carro; aquela casa; quando...quando...quando...sempre depois. Fazem promessas para o agora baseados no que virá, se projetam para um futuro mágico onde tudo fica resolvido e solucionado.. São tão loucos quanto eu se formos pensar bem.

Quem de nós ainda repara no mundo que nos cerca? Pois é. Não sou imediatista, esse é o outro extremo. O imediatismo é recheado dessa gente que já não consegue esperar, ter paciência, que não entendem a lógica da colheita que é tão preciosa, onde temos uma semente, temos a terra, precisamos preparar o terreno, plantar, regar, cuidar, podar, acompanhar o crescimento. Não entendem a vida como um processo. O imediatismo não pensa em processo, na verdade penso que no imediatismo não há nem sequer o pensamento. Sabe de quem é a culpa? Não, a culpa não é das estrelas, e não vou responder a essa pergunta. Ela paira no ar esperando ser pega. Em outra Terça a gente fala mais sobre isso...

Ellion Montino


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